FIIs ativos X FIIs passivos – Uma eterna luta
Vamos começar o último relatório do ano com uma análise que nos permite reflexões educativas sobre o mercado de FIIs de um modo geral e ajuda o investidor a compreender e internalizar a ideia de reinvestimento, especialmente para quando estiver na fase de usufruir de sua renda. Vai que esta é a sua promessa de ano novo, pedir demissão do emprego.
O assinante sabe como defendo a existência de FIIs passivos na carteira, por diversos motivos. Entre esses, está a possibilidade de realmente participar da valorização imobiliária, não permitindo que parte dela se perca na tentativa de crescimento do FII, ou outras negociações que podem ocorrer.
Pois é, se você acompanhou a nossa coluna de FIIs passivos, também sabe que não sou um defensor de que esses sejam os melhores ativos para investirmos, uma vez que eles também possuem uma série de defeitos, entre eles o baixo número de inquilinos normalmente. Como em tudo na vida, temos pontos positivos e pontos negativos, ajustar isso com a estratégia adequada é que trará uma carteira robusta.
Nessa guerra há quem defenda os FIIs passivos e cite HGPO11 e SHPH11 como fundos que cresceram renda e cotação ao longo do tempo, mostrando que são melhores. Mas há quem defenda os FIIs ativos sobre o argumento de que possuem mais imóveis, acabam gerando um risco menor, podem gerar mais retorno com os giros do portfólio, e aproveitam para citar FAMB11 e XPCM11 como passivos que geraram enormes prejuízos aos investidores.
E quem estará certo ou errado? Na verdade, como tentei mostrar na coluna, já encerrada, mas resgatável na área do assinante, os dois estão certos e errados ao mesmo tempo. Teremos boas opções nos dois lados, com pontos positivos e pontos negativos.
Ocorre que esta semana eu decidi colocar mais um capítulo nesta guerra, utilizando PVBI11 para comparar e auxiliar o investidor na análise. Vamos a ela.
Em setembro de 2020 o PVBI11 comprou o imóvel do FVBI11, sendo este último um passivo, proprietário de um excelente imóvel na Faria Lima, e o primeiro um fundo de lajes corporativas Triple A que na época estava em construção de seu portfólio.
Diante disso, eu me perguntei “quem teria aumentado mais a renda nesses 4 anos, o investidor que manteve hipoteticamente o FVBI11, ou o investidor que pegou o valor da amortização de FVBI11 e comprou PVBI11?”. Observe, a pergunta não é quem teria mais patrimônio, qual cota teria valorizado mais etc.. Não, isso nós sabemos que os investidores e Gestores não controlam, mas a renda, esta sim, nós de certa forma controlamos, ainda que ela influencie no primeiro. Assim, a minha pergunta era apenas: “quem teria crescido mais a renda?”
Assim, vamos olhar seus números.
Antes do seu fim, o FVBI11 tinha um rendimento de R$ 0,64, estava 100% ocupado e tinha um aluguel médio de suas lajes de R$ 138,00 o m². Um investidor que tivesse 1.000 cotas deste fundo teria, naquela época, um rendimento de R$ 640,00.
Este imóvel está no PVBI11 atualmente e temos todos os dados dele. Ele tem uma vacância financeira de 6,30%. O fundo não informa o aluguel por m² de imóvel a imóvel, mas segundo as últimas locações e dados da SiiLA, sabemos que o aluguel do imóvel gira por volta de R$ 280,00. Mas, para este estudo, considerei R$ 240,00 o m², pois, há imóveis com contratos ainda mais antigos e quero tentar fazer um comparativo mais justo possível.
Bem, se o FVBI11 existisse até hoje, com esta realidade de vacância e aluguel por m², teríamos um rendimento por cota de R$ 1,09 e aquele cotista com 1.000 cotas estaria recebendo hoje R$ 1.009,00. Isso nos daria um crescimento de 57%, para uma inflação de 31,84% no período.
E o PVBI11? Bem, o cotista de FVBI11 recebeu o equivalente a R$ 159,10 por cota do fundo. Se quando recebesse os valores comprasse tudo em cotas do PVBI11, ele teria 1.562 cotas de PVBI11. Como atualmente o fundo tem um rendimento de R$ 0,55, atualmente este investidor receberia R$ 859,10.
Aquele investidor que recebia R$ 640,00 quando do FVBI11, hoje receberia R$ 859,10, ou seja, um crescimento de 34%, nada mal. Mas ainda é um crescimento abaixo do FVBI11.
Assim, quem tivesse mantido FVBI11, hoje teria uma renda mensal de R$ 1.009,00, enquanto quem tivesse pegado o valor pago por este fundo e comprado tudo de PVBI11, teria R$ 859,10. Claramente o fundo passivo ganhou, mas, antes, precisamos olhar outro ponto.
Quando dessa transformação, de imediato o investidor que optou por PVBI11 observou um aumento de sua renda? Quem tinha FVBI11 recebia R$ 640,00 (1.000 cotas), já que pegou o valor e comprou PVBI11 (1.562 cotas) passou a receber, já em janeiro de 2020, o valor de R$ 859,10, ou seja, mais. Será que esta diferença de recebimento não seria suficiente?
Desde setembro de 2020, o investidor de PVBI11, com aquelas cotas, teria recebido R$ 43.954,68.
Para FVBI11, caso simulemos que o aluguel médio subiu para R$ 190,00 em junho de 2021, mantendo a atual vacância, e depois para os atuais R$ 240,00 em janeiro de 2024, o acumulado para as 1.000 cotas seria de R$ 41.710,00. Ou seja, uma diferença de só R$ 2.244,68.
Claramente o fundo passivo ganhou do fundo ativo.
Mas, feitos esses cálculos, fiz vários questionamentos, entre eles eu destaco dois: i) a renda subiu bem em razão da localização e qualidade diferenciada do imóvel em questão, o que faz a amostragem não ser adequada; e ii) o FVBI11 até melhorou mais a renda, mas ajustado ao risco do mono-ativo, até que PVBI11 teria ficado interessante no risco x retorno.
Bem, para responder um pouco essas questões, decidi continuar na reflexão e explorar uma segunda compra do PVBI11, o VLOL11, também um fundo passivo.
Este é uma aquisição recente, até difícil fazer qualquer comparativo, mas, vamos lá.
Em maio de 2023 iniciou-se o processo de aquisição do imóvel do VLOL11 pelo PVBI11 e o processo de compra envolvia o recebimento de cotas de PVBI11, na proporção de 0,9719 cotas de PVBI11 para cada cota de VLOL11 + R$ 18,15 em dinheiro.
Vamos fazer o mesmo processo, 1.000 cotas de VLOL11. Neste caso não precisaremos comprar muitas cotas de PVBI11, já que recebemos elas.
Em maio de 2023 o VLOL11 estava 100% ocupado e praticava um aluguel médio de R$ 115,00, o que gerava uma renda de R$ 0,61. Quem tinha 1.000 cotas recebia R$ 610,00.
O imóvel foi para o PVBI11 e conseguimos precisar a vacância do imóvel. Dos andares adquiridos do VLOL11, apenas o 7º andar está vago, ou seja, seria uma vacância de 14,58%, o restante do prédio que está vago é da aquisição do PATC11. Atualmente o aluguel médio do imóvel está em R$ 140,00. Se aplicássemos esta vacância e este aluguel, o fundo renderia R$ 0,62, ou seja, quase não teria mudado.
Com isso, o investidor recebia R$ 610,00 e passaria a receber hoje R$ 620,00, caso tivesse ficado com VLOL11 (se fosse possível).
E se tivéssemos optado por PVBI11? Neste caso teríamos 1.165 cotas de PVBI11, as que recebemos e o dinheiro que recebemos e usamos para comprar mais. De cara, quando feito o negócio, já teríamos um incremento da renda, que passaria para R$ 710,65. E, atualmente, seria de quanto? Neste caso seria de R$ 640,75.
Observem que interessante, aqui a renda aumenta na troca e fica maior hoje, mesmo a renda do PVBI11 tendo reduzido recentemente, ou seja, o ativo ganha do passivo. O ponto principal aqui é a vacância.
Mas, não fosse a vacância e o VLOL11 estivesse 100% ocupado? Neste caso a renda dele estaria em R$ 0,74/cota e estaríamos recebendo R$ 740,00. Realmente, este valor é superior aos R$ 640,75, mas para isso eu não poderia ter tido a vacância, o que é difícil quando eu tenho poucas lajes.
Um ponto importante no comparativo com o VLOL11 é o pouco tempo de evolução, impedindo que os efeitos da valorização do imóvel e um eventual repasse disso para um aluguel maior gere efeitos maiores.
Neste caso podemos dizer que a renda do PVBI11 melhorou e, mesmo que o VLOL11 estivesse em uma situação que gerasse mais renda, esta renda seria gerada com um risco maior, o que fica claro na questão da vacância que ocorreu.
Assim, este comparativo do PVBI11 nos mostra que em determinados momentos o fundo passivo será melhor, mas em outros, mesmo um fundo ativo que não tenha conseguido crescer a sua renda, terá sido melhor, ou ter um retorno ajustado ao seu risco melhor. E desse comparativo e da minha experiência de mercado nesses anos, eu faria os seguintes apontamentos para o assinante:
- Um dos problemas recentes que vimos nos FIIs ativos e já cansamos de falar foram suas emissões com poder diluitivo que seguraram o potencial crescimento do patrimônio e da renda. Vimos isso claramente acontecer em PVBI11, especialmente quando comprou a segunda parte do imóvel do FVBI11, agora do FLFL11, especialmente escrito no relatório de 04/02/2024.
- Esse impacto na renda em razão da diluição pela emissão ocorre sendo feita abaixo do VP, no VP ou até mesmo acima do VP, não há regra para isso. Abaixo do VP gera um potencial maior para que a diluição ocorra, sendo difícil compensar, mas uma emissão no VP não quer dizer nada. Por isso, precisamos sempre olhar com muita atenção para as emissões.
- Essa diluição provocada pelos FIIs ativos é algo da qual não temos como fugir, elas tendem a ocorrer em quase todos. O PVBI11 aqui foi o exemplo, pois entendo que exageram nisso em sua pressa para crescer, como escrevi algumas vezes, mas quase todos os fundos de gestão ativa terão este problema. O que podemos é minimizar o impacto conhecendo o histórico do Gestor. Um bom Gestor, preocupado com este efeito diluitivo e não apenas preocupado em emitir novas cotas vai conseguir mitigar bastante este impacto.
- O efeito diluitivo hoje é potencialmente menor em razão do tamanho dos fundos. Uma coisa era um PVBI11 com um patrimônio de R$ 500 milhões, outra coisa é um PVBI11 com um patrimônio de R$ 2,8 bilhões. Antes, comprar um prédio de R$ 250 milhões era impactante, agora não mais. Isso é o que mais me faz destacar os descontos exagerados do mercado hoje quando comparado com qualquer momento passado, pois antes não tínhamos isso.
- Se você estiver na fase de usufruir, uma das necessidades de reinvestir parte da renda é justamente lhe proteger deste evento, entre outros, claro.
- Não se apaixone ou se apague a um fundo. Em uma primeira análise ele pode parecer excelente, bons imóveis, boas expectativas etc. Mas com o passar do tempo vemos algumas coisas mudando e é importante estar atento a isso para se proteger.
- Não ignore um bom fundo passivo. Fundos passivos não sofrem esta diluição e conseguem capturar a valorização imobiliária e do aluguel, como vimos no exemplo do PVBI11 x FVBI11.
- Não supervalorize os fundos passivos como se só eles fossem bons, pois “retiramos a ganância por emissões”. Fundos passivos são menores e o risco de vacância acaba sendo potencializado, como vimos em PVBI11 x VLOL11.
- Ter FIIs passivos implica em ter mais fundos e com percentuais menores, diferente de FIIs ativos. Não há maiores diferença entre ter 7 % em PVBI11 ou ter 7% em 7 FIIs, cada qual proprietário de um dos edifícios que estão dentro do PVBI11. No final, você terá a mesma quantidade de dinheiro, com o mesmo número de edifícios e com o mesmo nível de renda. Dificilmente isso terá diferença. Por isso, não existe isso de buscar um número mágico de FIIs a ter em carteira. Isso depende da sua diversificação e dos tipos de FIIs.
- FIIs passivos não são para iniciantes, mas aqui acredito que você não se enquadra. Devemos buscar multi-inquilinos, ou, caso optemos por inquilino único, precisa ser em casos muito específicos, como NSLU11 ou FCFL11.
- Cuidado com comparativos sobre finanças. Muitas vezes eles são feitos para defender uma ideia, ou uma tese. Eu poderia ter parado no PVBI x FVBI e ter defendido que o passivo é melhor, ou poderia ter só feito o PVBI x VLOL e ter defendido que o ativo é melhor. Isso vale para todas as áreas de nossa vida e nos investimentos não seria diferente.
- Por fim, vou voltar a um tema que entendo ser muito importante. Os preços dos FIIs estão com desconto histórico, mas o momento de hoje para futuro dos FIIs é muito melhor. Não tenho dúvida de que o resultado mediano para ruim em muitos FIIs não tem ligação só com o momento econômico do país, mas também com uma Gestão focada demais em gerar receita para o mercado financeiro, especialmente em emissões para crescer rápido. Isso é ruim, isso incomoda e vai voltar a acontecer quando os juros reduzirem, não tem jeito. Mas o impacto será muito menor em razão do tamanho dos fundos, mas muito menor, o que deve ser totalmente compensado pelo ganho potencial.
No momento, os FIIs passivos caem pouco, diferentemente de alguns FIIs ativos, como o próprio citado PVBI11, permitindo que se compre esses fundos com um yield muito elevado. Entendo que, por enquanto, não seja o momento para se priorizar os FIIs passivos em suas compras, mas os ativos, especialmente esses grandes, como PVBI11 ou XPML11, como escrito no relatório 56.
Último relatório do ano
Como explicamos no relatório passado, este é o nosso último relatório do ano e retornaremos com uma edição extraordinária e curta no dia 08/01/2025, juntamente com o nosso relatório de ações.
Assim, chegamos ao final do ano. E que ano.
Se pegarmos o primeiro relatório do ano é possível vermos a citação sobre o tradicional rally de valorização de final de ano, quando as cotas dos FIIs observaram uma forte valorização, deixando muitos investidores empolgados e felizes (grave isso para o final do texto). É muito interessante resgatar o que escrevemos no passado e, neste primeiro relatório de 2024, foi o seguinte:
O rally de final de ano nada mais é do que uma corrida dos investidores para comprar ativos, quanto mais compra, mais a cotação sobe, quanto mais a cotação sobe, mais o rally de final de ano parece estar ocorrendo, retroalimentando uma corrida dos investidores por comprarem ativos e este ato fazendo com que eles valorizem.
Isso é um comportamento típico de manada dos investidores. Em algumas vezes podem levar os ativos a ficarem extremamente fora de seus preços justos, como vimos no final de 2019, e outras vezes apenas aceleram o processo de correção das distorções de valores, como vimos agora.
Assim, não saia do pressuposto de que este rally sempre ocorrerá. Ele aconteceu e pode repetir, como pode não repetir.
A verdade é que a aceleração na valorização fez com que muitos FIIs tivessem valorização e muitos descontos exagerados que estávamos vendo, especialmente em FIIs de recebíveis, fossem desaparecendo.
Pois é, isso era um pouco de reflexo do otimismo de que os juros seguiriam caindo ao longo de 2024, bem como a melhora gradual que se via no setor imobiliário, característico do seu movimento cíclico.
Ao longo do ano vimos alguma queda dos juros, mas a situação mudou. Os gastos do governo impulsionaram a inflação e esta subiu. Os juros voltaram a subir. Apesar de tudo isso, tivemos a melhora da nota de crédito do Brasil pela Moody’s, para bagunçar ainda mais a percepção dos investidores.
Mas, novembro chegou e as expectativas de que poderia não haver uma preocupação por parte do Governo com os gastos públicos e que isso levaria a mais déficit fiscal começou a deixar muita gente preocupada. Muitos culpam a “Faria Lima” ou o chamado “Mercado Financeiro” por esse movimento; no entanto, parece que o pessimismo atingiu em cheio diversos agentes econômicos e não somente aqueles ligados diretamente ao setor financeiro.
Segundo a entrevista do Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto (Não mais agora Presidente), entre os dias 1º e 13 de dezembro o Brasil viu uma saída “acima da média” de dólares em razão da distribuição de dividendos. Ou seja, possivelmente não foi só o mercado financeiro que ficou pessimista com o futuro, mas muita gente começou a ficar pessimista e retirar o dinheiro do Brasil.
Isso gerou um movimento muito rápido de alta do dólar e alta dos juros futuros. Culminou em uma alta da Selic também, com uma “contratação” de mais duas altas iguais e que podem levar a taxa referencial para 15%.
Já se tinha um aumento do pessimismo com o risco de mais gastos do Governo levarem a mais inflação e mais juros, gerando uma crise no país, o aumento rápido dos juros futuros e do dólar intensificaram isso, criando um verdadeiro círculo vicioso. É quase como criando uma previsão autorrealizável, na qual inicia-se movimentos para se proteger da previsão traçada e esses movimentos geram outros movimentos que levam àquele resultado ocorrer, mesmo que antes ele não fosse ocorrer plenamente.
O resultado, um rally de final de ano ao contrário.
Os ativos em bolsa, os mais variados possíveis, passaram a cair rapidamente e os títulos do Tesouro passaram a negociar com spread de juros muito elevados.
Isso tudo gera um misto de empolgação com preocupação. Se por um lado nos empolgamos com os descontos que os ativos passam a negociar, nos preocupamos que realmente uma crise possa ser instalar, um aumento de inflação, uma nova queda do PIB, um aumento do desemprego e todas as consequências econômicas e sociais que isso nos leva.
O ponto interessante é que economicamente não estamos neste quadro ainda, mas os ativos passam a negociar como se fossemos chegar. A leitura que eu faço é de que os investidores estão com uma memória muito fresca do período Dilma, em que tivemos uma queda do PIB grade, um aumento da inflação, dos juros e do desemprego, sendo que os ativos em bolsa foram caindo quanto mais a economia se deteriorava. Com este cenário muito fresco na cabeça, pode ser que os investidores decidiram adiantar o movimento nos ativos, ou vendendo, ou não comprando, exigindo preços como se o momento econômico fosse semelhante àquele do período final do Governo Dilma. Algo do tipo assim “vai chegar naquele momento econômico, então só compro ativos com preço que se justifique se aquele cenário ocorrer”, ainda que o momento atual não seja igual.
E neste rally de queda, temos movimentos que parecem refletir o parágrafo anterior, mas temos movimentos que parecem já serem do típico comportamento do “Sr. Mercado” descrito por Graham, que alterna entre a euforia e a depressão. Vemos movimentos muito exagerados em quedas nas cotações de FIIs que me parecem não justificarem nem naquele cenário. Esse movimento eu vejo especialmente nos FIIs de recebíveis, que em geral possuem o seu valor patrimonial marcado com base na alta dos juros futuro e ainda negociam com descontos de mais de 10%, algumas vezes mais de 20% e até mais de 30% sobre este já remarcado valor patrimonial.
Assim, começou-se 2024 com um certo otimismo, mas terminamos ele com um pessimismo poucas vezes visto. E parte do pessimismo surge de questões políticas e de falas de membros do nosso Poder Executivo Federal. Qualquer melhoria precisaria vir pelo menos de uma mudança das falas.
Ocorre que, como bem escrito em uma das cartas da Vinci no final deste ano, os agentes econômicos não estão dispostos por pagar lá na frente desta vez. Ou seja, não adianta apenas falar ou aprovar uma série de medidas legislativas, parece que os investidores vão querer ver os dados. Se isso acontecer, não bastarão medidas aprovadas, ou amenizar as falas. Tal situação pode apenas conter as quedas, mas dificilmente vai permitir que os ativos voltem a valorizar.
O ponto importante para o nosso assinante é o que escrevi no começo. No rally de final de ano, com a valorização dos ativos, os investidores ficaram felizes, mas deveriam mesmo é estar felizes agora. Pois é agora que se compram ativos com margem de segurança suficiente para passar pelas incertezas. Quando todos estão otimistas, a margem de segurança desaparece e as mudanças levam a esta situação. Depois, cuidado com as ideias de se pode prever o que vai acontecer no futuro, cenários econômicos podem mudar rapidamente. O essencial no universo dos investimentos é se manter investindo constantemente e buscar sempre a maior margem de segurança possível.
Assim, apesar da preocupação com o rumo de nossa economia, este é momento para o qual o investidor se preparou e precisa seguir comprando e mantendo o seu plano de paciência, esperando para colher oportunamente.
Dados Econômicos
A semana foi de bastante volatilidade no mercado. Não só de FIIs, mas de todos os ativos possíveis, ações, renda fixa, Fiagro e tudo mais. Isso fez com que a NTNB de 2035, bem como as demais, tivessem uma enorme oscilação. A de 2035 chegou a passar de 7,50%, mas fechou a semana em 7,22%. O dólar teve uma forte apreciação e o pessimismo exagerado parece que se instalou. E pensar que no começo de outubro a nota de crédito do Brasil chegou a ser alterada para cima. Ok, quase ninguém levou muito isso em consideração, mas é uma oscilação de uma boa notícia para um cenário de “caos” muito rápido.
Para tentar amenizar um pouco um cenário que pode levar a deterioração econômico, esta semana o Congresso Nacional decidiu correr e aprovou a reforma tributária, a PEC do Pacote Fiscal e outros dois projetos de lei com medidas fiscais. Em outros momentos, quem sabe isso poderia gerar uma mudança no movimento das cotações em bolsa de valores; no entanto, como escrevi acima, parece que os agentes econômicos vão querer ver os resultados antes de fazerem seus movimentos. Até pelo fato de que ainda há muitas dúvidas sobre o impacto dessas reformas.
Parece pouco provável que essas reformas possam gerar um movimento contrário do que estamos vendo. Quem sabe estancar um pouco o nível de desvalorização de juros futuros, do real, dos ativos em bolsa, o que é positivo para quem está no processo de investimento de longo prazo. Mas virar para uma valorização mais robusta, acho pouco provável.
Depois, nesta sexta-feira o Presidente Lula fez um pequeno vídeo ao lado do novo Presidente do Banco Central e dos Ministros Haddad, Rui Costa e Tebet. É um pequeno vídeo de 2 min e está disponível no X, no seguinte LINK. No vídeo o Presidente afirma ao Presidente do Banco Central que este é independente e que não haverá nenhum tipo de interferência, além de reforçar a preocupação com a inflação e questões fiscais. Penso que nada disso seria necessário se falas anteriores não tivessem sido feitas, mas, que bom ter sido feito agora. Essa fala parece que ajudou a frear o pessimismo do mercado, o dólar passou a cair e os juros futuros também. Os preços dos ativos em bolsa também tiveram uma pequena recuperação.
Mas, é um pouco do que escrevi acima, os agentes econômicos não tendem a acreditar em falas, ou projetos de lei, eles vão querer ver resultados agora. Mas, evidentemente que essas sinalizações ajudam a esfriar o excesso de pessimismo, como estávamos vendo. Como eu vinha falando para os nossos alunos do curso, os preços dos FIIs estão com um desconto que não precisamos ver melhorias, basta termos algo que ajuste o excesso de pessimismo para as cotações darem uma recuperada. Uma recuperada é diferente de uma valorização. Para uma valorização acontecer só com dados concretos de que o país não abandonou a responsabilidade fiscal e que teremos realmente um controle de inflação que permita redução dos juros o quanto antes.
Assim, é possível que observemos pequenas valorizações dos FIIs ao longo dos próximos dias, caso esta retirada do pessimismo exagerado dê lugar apenas a um pessimismo.
“Perdi a oportunidade de comprar barato?”. Não, com certeza não. Está tudo muito descontado e, como costumo dizer, pode ficar ainda mais. Em princípio, todo o movimento político iniciado esta semana pode ajudar a acalmar o mercado, mas acho pouco provável que consiga mudar o humor de pessimismo para otimismo. A quantidade de ativos isentos de IR com desconto é muito grande e, mesmo com uma melhora no humor, não acredito que todos os descontos sejam capazes de acabar rapidamente.
Assim, continue mantendo o seu plano de investir constantemente.
Por fim, tentando complementar um pouco a leitura econômico decidi compartilhar com o assinante alguns textos que li ao longo da semana. Quem sabe para a sua leitura, não agora, mas neste período que ficará sem relatório.
O primeiro texto é um do Brazil Journal, do Lucas Aragão, da Arko Advice, sobre o cenário político do Brasil e a situação fiscal. Ele apresenta sua visão sobre o que acontece no Brasil no universo político, como isso tem impactado a economia e traça alguns cenários sobre o que pode acontecer. O texto está disponível no seguinte LINK.
O outro texto não é bem um texto, mas um estudo feito por uma Wealth e divulgado na sua conta do X. Não vou replicar a imagem do estudo aqui para darmos os créditos ao autor do estudo. Está disponível no seguinte LINK. Por sinal, há alguns comentários meus neste post do X e acho que vale a leitura.
Outro texto interessante e pode trazer uma luz de racionalidade ao investidor é o escrito pelo brilhante Prof. Dr. João da Rocha Lima Jr. com o título “Leitura de qualidade equivocada do investimento em real estate por meio de FII”. O texto está disponível no seguinte LINK. Claro, o texto nos ajuda a trazer novamente para a racionalidade, mas o mercado não é só de racionalidade, como estamos vendo. Assim, se tiver tempo e, caso não tenha lido ainda, recomendo os livros A psicologia financeira e O mesmo de sempre, ambos de Morgan Housel. São livros escritos recentemente e, quando li, pensei “teria me poupado muito aprendizado com porrada na cabeça”. Recomendo.
Recomendação de leitura
Gosta de ler e vai ficar órfão deste que vos escreve? Ou então é do tipo que vai para praia e gosta de ler. Então me permita duas recomendações de leitura. São dois livros que li este ano e gostei muito. O primeiro é sobre finanças e se chama “As cartas de Warren Buffet”, um apanhado sobre as escritas do maior investidor de todos os tempos. É um aprendizado incrível. É gostoso de ler e fácil, pois você pode ler uma carta rapidinho e já parar, caso necessário.
O segundo não tem nada a ver com investimentos financeiros, mas com investimentos em saúde, o que também é muito importante. O nome do livro é “Tudo começa com a comida”.
Feliz Natal e um excelente ano de 2025
Antes do investidor seguir na leitura do relatório, quero agradecer por estar conosco mais um ano, ter confiado em nosso trabalho para lhe auxiliar a tomar as decisões de investimentos.
Esperamos ter alcançado o nosso objetivo de levar um conhecimento acumulativo ao longo deste ano de 2024 e que isso esteja facilitando o investidor se destacar da manada e entender este movimento como uma oportunidade e um bom momento para comprar mais renda, com menos dinheiro.
Desejamos aos nossos assinantes e seus familiares um excelente Natal e um ótimo ano de 2025, que possamos ter mais otimismo, mas que continuemos mantendo a nossa saúde e a nossa capacidade de aprendizado.
Um forte abraço e uma excelente leitura.
