Dados Econômicos
Esta semana tivemos a divulgação do IPCA de agosto, o qual apresentou uma leve deflação de -0,02%. O número veio próximo das expectativas, que apontavam para uma inflação de 0,02%.
Quando o investidor olha este número, deve se perguntar, e agora, o Copom sobe mesmo os juros? Eu vinha escrevendo que estava cético em relação à alta dos juros, mas, depois dos dados do PIB, comecei a ver como mais factível uma elevação da Selic, como escrevi no último relatório.
Agora, temos uma deflação, será que mudou tudo?
Antes, vamos olhar um pouco melhor para esta deflação.
O número veio bem baixo e pode até animar os investidores, no entanto, ao olhar para a composição do IPCA, observamos que apenas dois itens vieram negativos, o de habitação e o de alimentação/bebidas, tendo os demais vindo positivos. Tanto que o índice de difusão, que mede o quanto a inflação está espalhada, subiu de 46,90% para 56%.
Isso mostra que sim, a inflação veio negativa e levemente abaixo das expectativas, mas não é possível comemorar, pois o controle da inflação não parece algo totalmente conquistado ainda.
Não é por menos que a Anbima já divulgou a sua expectativa do IPCA de setembro e é de 0,54%. Compensando totalmente este índice negativo de agosto. Parte dessa expectativa deve surgir pelo fato de que alguns itens ainda observam inflação, bem como pela bandeira vermelha 1 que passamos a ver na energia e que vai impactar o próximo IPCA.
Ou seja, sim, tivemos uma deflação, mas a expectativa para os meses subsequentes é de alta na inflação e, quem sabe, até ficar fora da meta. Diante disso e do PIB divulgada na última semana, parece difícil o Copom não subir os juros.
Mas os juros já não estão contracionistas? Sim, estão e era isso que me deixava cético quanto à necessidade de subir os juros novamente. O que temos visto é o Governo gastando mais e gerando inflação, o ideal parece que seria não subir os juros, mas o Governo controlar um pouco mais o seu gasto. Mas não é o que temos visto e o Copom parece que ficará sem saída, especialmente com os dados que vão sendo divulgados.
Será que subir os juros vai ajudar a controlar uma inflação que tem um impulso nos Gastos do Governo? Este sempre foi o ponto que me fez ser cético quanto à elevação da Selic, bem como vários outros pontos, como já escrevi em relatórios anteriores. Mas, diante deste cenário, o Copom também não tem o que fazer e precisa agir. Por isso, começo a acreditar, cada vez mais, que iremos na contramão dos EUA e devemos subir os juros aqui.
Sobre este tema, a carta da Vinci em seus relatórios gerenciais deste mês está ótima. O texto começa com uma frase que expressa muito bem o que estamos vivenciando “Um pé no freio e outro no acelerador”. É muito bom o texto e tenho uma visão muito semelhante, recomendo a leitura da carta, disponível no seguinte LINK.
Se um cenário de controle fiscal realmente se desenhar, com o patamar dos juros atuais, poderíamos ter um grande controle de inflação e nos encaminhar para quedas de juros mais consistentes, principalmente com quedas dos juros nos EUA. Mas, como é dito na carta da Vinci, a baixa credibilidade do Brasil no tema fiscal fará com que ninguém pague lá na frente, ou seja, os juros futuros não vão cair se os investidores não observarem nos dados isso. Ninguém vai antecipar o movimento.
E quais os efeitos práticos para os FIIs diante deste cenário.
O primeiro efeito prático é a deflação deste mês. Isso vai impactar o rendimento dos FIIs de recebíveis, especialmente aqueles que apuram pelo regime competência, como os fundos da Kinea e Vectis. Isso significa que as suas contas vão cair? Impossível dizer, ao que tudo indica será apenas um mês de deflação, seguido de uma inflação mais elevada. Racionalmente não deveria ter quedas. Mas, é interessante o investidor ficar atento, pois se houver queda após a divulgação do próximo rendimento, será uma oportunidade de compra.
Já nos FIIs de recebíveis que apuram pelo regime de caixa, nesses não deve mudar nada.
Em um cenário de deflação seria normal observarmos as NTNBs caírem, na expectativa de novas quedas dos juros, o que levaria a uma valorização dos FIIs de tijolo. Ocorre que, como vimos, não parece algo factível. Em razão disso, os juros futuros voltaram a subir e uma valorização das cotas dos FIIs de tijolo não seria algo no radar. Interessante para quem tem recursos, seguir aportando. Na semana a NTNB fechou em 6,21%.
Mas, se por acaso o Governo decidir partir um pouco para o controle fiscal, isso poderia abrir um caminho para queda da inflação e queda dos juros. O que poderia impactar mais os rendimentos dos FIIs de recebíveis, ao mesmo tempo que levaria a uma valorização dos FIIs de tijolo. Infelizmente, aqui nos resta apenas observar e ver se algo muda.
