Recomendação Cultural
Somos da opinião de que cultura é fundamental para o desenvolvimento do ser humano. E isso acaba fazendo de você um investidor melhor, tenha o assunto a ver com finanças ou não. Assim sendo, gostaríamos de oferecer uma indicação quinzenal da qual gostamos e achamos que seria útil.
Um Crime de Solidão - Andrew Solomon
"Um Crime da Solidão" é um livro do excelente escritor Andrew Solomon.
Com escrita muito fluida e fácil de ler, a obra aborda o suicídio de forma abrangente e profunda.
Eu sei, eu sei... O tema é bem pesado.
Mas é importante que haja consciência social sobre problemas de saúde mental, e ainda estamos engatinhando nisso.
O autor chega a falar muito sobre a própria experiência, deixando um livro com uma roupagem muito honesta.
Por fim, Solomon tanta mostrar a enorme importância que o fator social tem nessa questão.
Ótima leitura!
Crônicas de Mercado
Periodicamente procuraremos trazer textos (crônicas) para nossos assinantes com o objetivo de levar a uma reflexão mais profunda sobre o mundo dos investimentos, assemelhando-o a nossa vida cotidiana, afinal, investir sempre fará parte da nossa vida cotidiana. Denominamos esses textos como “Crônicas de mercado”, e cada um deles virá com um tema diferenciado.
Sentindo na Carne
Roger sempre fez as compras da casa. Até mesmo quando não era com o cartão de crédito dele. De família de classe média, na hora de distribuir as tarefas o supermercado sempre ficava com o rapaz.
De forma que ele não era nem um pouco estranho àquele ambiente. Ele conhecia os supermercados da região de trás pra frente.
Seu pai era engenheiro e não gostou nem um pouco quando ele decidiu largar a faculdade de engenharia.
- Não tem nada a ver comigo – disse o rapaz ao trancar a Universidade e se inscrever no vestibular de biologia.
- Mas já que você está em biomédicas, por que não medicina? Por que não odonto? Você é inteligente, passa em qualquer vestibular.
- Porque eu gosto é de biologia, ora essa. Achei genética muito maneiro!
Talvez gostar de genética não fosse justificativa razoável pra cursar 4 anos de biologia, mas o rapaz levou mais alguns anos pra perceber isso. Foram apenas 3 cadeiras que mencionavam esse assunto.
Deu vontade de trocar de faculdade novamente, mas Roger teve uma boa intuição de que seria inteligente ao menos terminar uma delas.
Formado em biologia sem muita empolgação, era quase impossível de trabalhar com a pobre da genética. Eram muito poucas vagas!
Professorado não vingou, apesar de Roger considerar a possibilidade um porto seguro. As crianças faziam barulho e não tinham motivação pra aprender. E os adolescentes tinham urgências hormonais tais que se fazia impossível acompanhar um slide sobre citologia.
Ele caiu de paraquedas no serviço público, e não se arrependeu. O salário costumava vir sem atraso e ele tinha boa estabilidade.
O concurso que prestou foi muito bom, mas não de ponta. Com uma família de 4 pra sustentar, ele assumiu com orgulho sua missão no supermercado (que conhecia com ninguém) para otimizar o dinheiro da melhor forma possível.
Fosse frango, boi ou porco, sua família estava comendo carne em todas as refeições, e isso era um luxo. Muitos de seus antepassados não puderam exercer seu carnivorismo com tanta dedicação.
Havia uma limitação óbvia de valor. O preço do quilo começava em cerca de 16 reais e subia até uns 70 reais.
Roger gostava muito de filé mignon e ia nessa seção sempre antes das outras carnes.
Num belo dia um pedaço em particular chamou a atenção do biólogo: um pedaço de filé mignon nobre que estava reetiquetado com o preço de 72 reais o quilo. O preço normal dele era 180 reais por quilograma.
Ele é esperto o suficiente pra saber que dinheiro não cai do céu. Se essa fatia nobre estava com tal desconto, algo havia. Provavelmente uma proximidade muito grande com o prazo de validade.
Por outro lado, sabia que esse supermercado não tinha o perfil de vender carne estragada. Até mesmo porque há uma série de sansões previstas para esse caso.
“Mas está ok”, ele pensou. “Se o prazo tá próximo do final, eu ponho esse filé fora do freezer e cozinhamos logo essa peça”.
Ao passar pelo caixa, uma surpresa: o leitor não estava lendo o preço da remarcação.
A moça já estava quase impaciente, embalando a peça de carne nos braços e a fazendo passar pela maquininha como se fosse um recém-nascido que se recusa a dormir.
Assim que a funcionária desistiu do código de barras, lembrou que há um número ali em cima que ela pode digitar no teclado.
Roger se sentiu aliviado, pois já estava ficando impaciente.
A mulher bateu os números no teclado, bateu e bateu, e nada do código estar correto.
- O que foi que houve? – Roger inquiriu
- É o que numerozinho aqui está apagado. Apagou com a umidade da carne. Não tá dá dando pra adivinhar. Mas o senhor fique tranquilo que o rapaz vai lá levar a carne pra pôr outra etiqueta e já volta.
- Não precisa, não, obrigado. Não vou levar ela.
Após 3 segundos de silêncio, a dificuldade em entender o que ele falara ainda era notável. A moça olhava para nosso herói como se estivesse vendo um E.T.
- Mas como assim? O rapaz já vai ali rapidinho pra você e traz.
- Não. Você me desculpe, eu estou com pressa. Vai ser no cartão de crédito. (tom) Na última vez que ele foi fazer isso, levou 8 minutos pra voltar, deve ter dado até uma atualizada nos grupos de “zap” antes.
- Então tá. Vai ser no débito ou no crédito?
- No crédito (Roger sorriu e subiu a sobrancelha apenas alguns milímetros, sinal não verbal de que ele já tinha passado essa informação momentos antes).
A moça do caixa fica ali trabalhando 6 horas por dia. Inconscientemente ela vê padrões, e quando algo sai do padrão acaba chamando a atenção.
A escolha de Roger de seguir adiante causou estranheza porque quase ninguém faz isso. Não que ninguém seja impaciente... muitos o são. Mas sim porque o freguês pegou uma peça nobre e colocou no carrinho pra levar.
A maioria das pessoas teria desenvolvido apego emocional pela ideia de levar o produto.
Após o investimento emocional de encontrar a promoção, se imaginar comendo algo diferente e pôr o produto em seu próprio carrinho, não é usual o sujeito deixar tudo pra lá por causa de uma breve espera.
O investidor que tem esse traço de personalidade de Roger leva uma boa vantagem num ponto crucial: depois de comprar um ativo, não há muito investimento emocional por conta dessa compra. Existe muito menos apego pelo preço médio de aquisição que ele boletou.
Isso deixou o investidor livre pra só manter aquilo que vale a pena, trocando a carteira sempre que se faz necessário. Sem apegos emocionais.
Seja como Roger. Na medida do possível...
Você não deixaria um dente estragado na boca só porque ele já é seu por 20 ou 30 anos.
Assim espero!
Caso contrário haveria um sério problema de demanda no mercado de trabalho odontológico.
A nossa carteira recomendada tem 31% dela em ativos ligados ao setor imobiliário, seja Properties, como é o caso da Allos, sejam as construtoras.
É uma diversificação que entendemos ser bem razoável pelo momento da economia, dos juros e por toda a diversificação que a carteira acaba possuindo.
Apesar disso, sabemos que quase todos os assinantes do nosso serviço de ações são também assinantes de FIIs, o que pode fazer com que a sua concentração em ativos do setor imobiliário passe dos 70%. Com isso surgiu a ideia de dar uma luz sobre o tema, sabendo que não há um manual de instrução para isso e cada investidor é diferente um do outro.
Um dos pontos que tem feito os ativos em bolsa de valores desvalorizarem são os juros futuros. Sim, no momento já passamos desse ponto e temos uma influencia da parte emocional muito forte, ficando difícil explicar as quedas com questões racionais. Apesar disso, os juros futuros em alta jogam os ativos para baixo e isso é uma realidade.
Nesse movimento de juros para cima, os ativos com mais previsibilidade na geração de caixa, como FIIs, empresas do setor de utilities (energia e saneamento) e até empresas de properties, como Allos, são fortemente impactadas. Já o setor de construção civil é também impactado, mas aqui há um duplo impacto, o primeiro da precificação dos juros elevados, mas o segundo das incertezas que acompanham a evolução das vendas. Evidentemente que se algo impacta para baixo, se inverter, impacta para cima.
Assim, neste momento de mercado é natural que o investidor tenha sim uma maior concentração nesses tipos de ativos que se beneficiariam da inversão dos juros futuros, o que geraria ganho de capital e, no caso das construtoras, até uma dinâmica melhor de receita. Costumo dizer que se você diversificar a sua carteira para que quando um ativo caia, outro suba e você não alterar a concentração de carteira, quando o ativo que caiu subir e o que subiu cair, você só vai voltar para o zero e a diversificação pouco fez por você.
Em razão disso, não vemos motivo para o investidor ficar preocupado em ter FIIs e ter empresas ligadas ao setor imobiliário, pois essas são grandes oportunidades no setor.
Evidentemente que ter 70% da carteira no setor imobiliário vai passar por uma preferência do investidor em ainda ter uma posição grande em FIIs, elevando desta forma a exposição ao setor. Não vemos problema nisso, desde que os ativos comprados sejam de qualidades e diversificados entre si, o que acreditamos ser o caso do nosso assinante.
Assim, se este é o seu caso, ainda tem uma exposição grande em FIIs e está na dúvida se deveria fazer a posição nas empresas de construção civil ou de properties, no caso da Allos, entendemos que é sim o caso de fazer. Mas claro, o nosso objetivo é sempre contribuir para o seu aprendizado e reflexão, podendo tomar as decisões com mais convicção e confiança.
