Recomendação Cultural
Somos da opinião de que cultura é fundamental para o desenvolvimento do ser humano. E isso acaba fazendo de você um investidor melhor, tenha o assunto a ver com finanças ou não. Assim sendo, gostaríamos de oferecer uma indicação quinzenal da qual gostamos e achamos que seria útil.
Desconstruindo a Ansiedade – Judson Brewer
Bom livro. Diria que a proposta dele é oferecer uma abordagem prática e científica para entender comportamentos que contribuem para a ansiedade.
A obra é bem-sucedida nesse objetivo: veja bem, é um livro novo (portanto atual) e escrito para as massas.
Não é um texto amarrado, mas também não é um autor que nasceu sabendo formar orações agradáveis de se ler.
Certa altura, ele traz os conceitos de mindfulness, já mencionados por alto por aqui.
Não diria que é a melhor literatura sobre o assunto. Mas se você curto esse tipo de livro, provavelmente gostará desse também.
Deu pra curtir.
Crônicas de Mercado
Periodicamente procuraremos trazer textos (crônicas) para nossos assinantes com o objetivo de levar a uma reflexão mais profunda sobre o mundo dos investimentos, assemelhando-o a nossa vida cotidiana, afinal, investir sempre fará parte da nossa vida cotidiana. Denominamos esses textos como “Crônicas de mercado”, e cada um deles virá com um tema diferenciado.
220
Leandra sempre foi ligada no 220, mas depois da Pandemia isso piorou.
Vamos voltar alguns anos no tempo (pleonasmo tradicionalíssimo, coisa muito fina).
Enquanto criança, ela foi uma menina muito ansiosa. Filha do meio de uma família de 3, a menina ganhava várias responsabilidades que não passavam nem perto de seus irmãos.
Era preciso lavar os pratos, colocar a mesa e fazer a cama dela e da família toda.
Às vezes Leandra ficava confusa com a situação. E não foi por falta de razão!
A mãe esperava que ela fizesse sucesso no mercado de trabalho, muito embora o seu próprio exemplo tenha sido outro.
O pai achava que ela tinha que dar conta de todas as tarefas domésticas, e a mãe não discordava!
A vó, que era viúva e morava com eles, piorava ainda mais essa balança.
Sendo constantemente lembrada de suas responsabilidades, Leandra sentia como se tivesse que ser boa em português, matemática, tarefas de casa e ainda tivesse que sair à noite por aí com uma capa colorida, combatendo o crime.
Sua vó, ao menos uma vez por semana, fazia questão de lembrá-la:
- Minha filha, meninas prendadas precisam saber bordar e tocar piano.
Leandra não costumava deixar sem resposta:
- Minha vó, prenda pra mim é aquele prêmio que tem em festa junina.
Inteligente, a menina sempre conseguia se destacar. Mas seu nível de autocrítica e perfeccionismo haviam subido a níveis muito acima dos desejáveis.
Jovem adulta, quando ia a uma entrevista de estágio ou emprego ela dizia que seu maior defeito era ser perfeccionista.
Algumas vezes o entrevistador virava o olho, mas ela não estava jogando pra torcida! Estava sendo absolutamente sincera!
Afinal, ia pra praia a moça ficava três horas até terminar um castelo de areia. E usando o esquadro que ela trouxe de casa, é claro.
Leandra sempre foi ligada no 220, mas depois da Pandemia isso piorou.
Ela sempre foi ansiosa, mas funcionava muito bem no dia a dia.
Após o COVID, ela começou a tratar ataques de pânico – uma parada nem um pouco agradável.
Talvez fosse algo que já estivesse fadado a acontecer, e a pandemia tenha apenas acelerado esse processo. Não sei dizer.
Se eu, que sou o narrador onisciente, não tenho certeza, não vai ser a pobre da menina que saberá.
De qualquer forma, ela buscou tratamento, e aos poucos começou a melhorar.
A demanda dos afazeres diários não ajudava, com marido e dois filhos. Mas eles foram razoavelmente compreensivos, dando uma força no período mais difícil.
Com terapia cognitivo-comportamental houve uma melhora. O conhecido Rivotril, mais perigoso do que motorista bêbado e privado de sono, entrou na equação também.
Apesar dos avanços, ela ainda tinha alguns percalços estranhos.
Havia horas, por exemplo, que ela ficava com medo de coisas que não deveriam gerar tanto medo assim.
A pobre de sua amígdala ficava mais apavorada do que senhora de 90 anos tendo que subir sozinha numa escada rolante.
Num determinado dia Leandra desistiu de comprar um frango assado porque teve um pensamento intrusivo de que a família teria que comer com pressa, logo seria “irresponsável” de sua parte disponibilizar em sua mesa todos aqueles ossos de frango.
Veja bem, realmente há muito mais mortes por engasgo do que muita gente se dá conta.
Mas havia atenuantes. Seus filhos não eram mais crianças pequenas; o mais novo já tinha 12 anos, portanto sabia mastigar a comida de forma quase responsável.
Acima de tudo havia o marido, Lucio, que estava almoçando com eles naquele dia. Lucio era enfermeiro experiente, e sabia fazer a manobra de Heimlich de trás pra frente.
A situação, portanto, era a seguinte: racionalmente, Leandra sabia que não havia por que deixar de comer frango. O risco ali era ínfimo, muito, mas muito próximo de zero. Seus pensamentos intrusivos, no entanto, faziam com que o cérebro emocional se sobressaísse ao racional, deixando-a sem ação diante daquele problema.
Não era falta de inteligente. Ela tinha até pós-graduação em estatística, sabia calcular probabilidades como ninguém.
Porém, seu estado de saúde era “meia-bomba”, o que a deixava com uma série de limitações no dia a dia.
No mercado financeiro acontece algo semelhante.
É preciso avaliar probabilidades com segurança. Mas mesmo que a pessoa saiba fazer isso, também é preciso que ele se sinta bem colocando aquilo em prática, ou todo seu conhecimento não valerá de nada.
No primeiro sobressalto, ele zerará sua posição, apavorado, mesmo continuando a achar que se trata de uma operação vencedora.
Controle emocional se treina, não há dúvida. Mas o perfil do investidor pode deixar tudo mais fácil. Ou muito mais difícil.
Tente harmonizar sempre o emocional com o racional! Deixe-os conversando como se fossem velhos amigos.
Desenvolva essa habilidade e aproveite!
Ou seu pet não terá como degustar alguns ossos deliciosos de vez em quando.
Decidimos resgatar esta coluna para comentar um pouco sobre as quedas de mercado e onde alocar, em FIIs, ou em ações, atendendo ao pedido de vocês.
Infelizmente, já adiantamos, não há uma resposta precisa por aqui, mas vamos lá.
Os juros futuros estão subindo, a Selic está subindo e isso vai precificando os ativos para baixo, sejam ações, sejam FIIs, em razão do aumento da taxa de desconto. Depois, juros elevados aumentam o risco de uma desaceleração da economia, ou até uma recessão, o que geraria redução de receita desses ativos. Uma expectativa de redução de receitas leva, necessariamente, a uma redução dos preços dos ativos. É claro que esses dados são sempre complexos de serem analisados, uma vez que, apesar do nosso patamar de juros, a expectativa é de um crescimento do PIB acima de 3%.
Somamos tudo isso ao fato de os investidores estarem vendendo os seus investimentos de forma acelerada, em geral por não terem conhecimento suficiente. Nos FIIs observamos um movimento muito grande do investidor pessoa física vendendo as suas cotas com medo das quedas, já nos fundos de ações observamos constantemente saques dos investidores e que obrigam os Gestores a venderem suas ações.
E, dentro do cenário de tudo caindo, qual ativo priorizar?
O assinante já nos conhece e sabe que a resposta é “depende”. Depende da estratégia e necessidade do investidor, do quanto ele precisa da renda constante dos FIIs ou não. Ok, mas isso você já sabe, vamos tentar auxiliar melhor.
Se olharmos para alguns setores, fica fácil de dizer quem está mais barato. Exemplo, ALOS3 ou as construtoras EVEN3, MELK3 e MRVE3 estão bem mais descontadas do que os FIIs. Difícil comprar um FII de shopping com ALOS3 neste preço e agora dando sinais de que pagará dividendos mensais.
As ações de bancos também estão mais descontadas que os FIIs, especialmente quando pensamos nos FIIs de recebíveis; no entanto, aqui algo costuma acontecer, os FIIs de recebíveis conseguem ter uma valorização mais rápida quando os rendimentos sobem e, com a inflação vindo mais elevada, isso deve acontecer. Assim, seria importante o investidor manter a diversificação e aproveitar as oportunidades nos dois setores.
Para outros setores não temos um comparativo muito adequado com os FIIs. Apesar disso, as ações estão mais descontadas, mas possuem mais volatilidade.
O ponto é simples, está tudo descontado, o investidor deve aproveitar para acumular ativos e manter um equilíbrio em sua carteira em sua estratégia. Se a sua estratégia envolve aumentar algum nível de concentração, as ações estão com um desconto mais relevante, mas isso não significa que elas possam valorizar antes. Então, muito cuidado, o ideal agora é “não inventar moda” e conseguir manter a sua estratégia de diversificação.
Nesses momentos de preços muito descontados é normal que o investidor comece a buscar algo a fazer, girar a carteira, vender FII para comprar ação ou o contrário. Vender algumas ações para comprar outras ações e assim por diante.
Sim, é possível que alguns movimentos façam sentido, mas tenha muito cuidado ao fazer, pois a probabilidade de errar é grande. Uma carteira bem montada, com ativos comprados de forma descontada, o mais provável é que o melhor a ser fazer seja apenas esperar. Isso mesmo, esperar. Girar demais pode desequilibrar a carteira, que, seguindo aproximadamente a recomendada, tem ativos bem descontados e de excelente qualidade. Lembre-se, nós não sabemos o dia de amanhã, os preços podem seguir descontados por muito tempo, ou até piorarem.
E, se o melhor é esperar, sem fazer grandes giros e não temos como saber quanto tempo vai levar para melhorar e, na verdade, o ideal é que demore, é importante que a nossa carteira seja capaz de gerar um fluxo de caixa suficiente para nos permitir realizar novos investimentos. Assim, não ignore os FIIs, os quais são capazes de gerar o fluxo constante para o investidor seguir comprando, ainda que pouco, mas consiga seguir comprando. Siga a sua estratégia e sua diversificação.
Por fim, cuidado com as novidades. Será normal o investidor começar a olhar várias ações e, por vez ou outra, uma vai valorizar e não estará em sua carteira. Quando isso for observado, rapidamente terá o gatilho “poxa, se eu tivesse comprado”. Pois é, mas você não está olhando as outras várias que caíram mais do que você tinha.
A nossa carteira recomendada é composta por ativos de qualidade e que acreditamos no potencial de gerar um bom retorno quando pensado na carteira como um todo, já que não tentamos acertar o futuro. Isso não significa que ativos fora da carteira não sejam bons e não possam ser investidos, mas tenha cuidado. O mercado só vai valorizar quando o fluxo de investidores aumentar e isso só vai acontecer quando os juros baixarem e/ou tivermos sinais de melhora da economia. Até lá, é oportunidade de comprar bons ativos.
Evite “criar muita moda” e girar demais a carteira, ou ficar em busca de muitos ativos novos. Nesses momentos nós somos meio vitrolas quebradas e repetimos várias vezes os mesmos ativos, pois eles estão descontos e acreditamos neles, apesar de sempre sabermos que questões econômicas não são controladas por nós e tudo pode mudar, por isso temos a diversificação.
Assim, aproveite o momento para comprar os ativos e busque não ficar ansioso, você está diante de uma excelente oportunidade para formação de patrimônio de longo prazo. Sim, sabemos que isso tem sido dito já tem pelo menos 3 anos, mas é assim que funciona.
