Indicação Literária  

Somos da opinião de que ler é fundamental para o desenvolvimento do ser humano. E isso acaba fazendo de você um investidor melhor, tenha o assunto a ver com finanças ou não. Assim sendo, gostaríamos de oferecer uma indicação quinzenal da qual gostamos e achamos que seria útil. 

Liberte sua personalidade - Maxwell Maltz 

Esse livro é antigo. E bota antigo nisso! Mas está dando para comprar sem precisar recorrer a sebo. Na Amazon, por exemplo, você consegue. E olha que o menino Bezzos não me deu nada para fazer esse comentário. 

Antes de mais nada... Que título é esse?? Misericórdia!  

Psycho-Cybernetics é o nome oficial. Psico Cibernetica na versão espanhola. O livro fala sobre o quê? Se você disse psicocibernética, você acertou, perspicaz leitor!!  

Psicocibernética é uma ciência que pretende desvendar os enigmas atrelados à mente humana, vendo esta como uma complexa máquina. Foi inventado pelo autor do livro, no caso um cirurgião plástico, há muito e muitos anos atrás. 

Neste livro, o autor aponta uma experiência interessantíssima: vamos separar 3 grupos de jogadores de basquete amadores. O 1º grupo vai treinar arremessos durante 10 dias, digamos. O 2º grupo não vai treinar nada. O 3º grupo vai treinar apenas na mente, visualizando-se ao fazer os arremessos como se estivessem na quadra. O resultado me impressionou muito. O grupo que não fez nada não melhora; o que fez os arremessos fisicamente melhora algo como 85% e o que se imaginou fazendo os arremessos melhora 71%. 

Isso revolucionou completamente o mundo do esporte competitivo. 

Antes que eu me esqueça, historinha interessante - Muita gente repete hoje em dia que é preciso 21 dias para adquirir um hábito novo. Isso não tem nenhum fundamento científico. A 1ª pessoa que disse algo parecido com isso foi justamente o Maxwell. Mas, convenhamos, não foi exatamente isso que ele falou. Ele disse algo como "de acordo com as minhas observações, pacientes que perdem os braços e fazem cirurgia de reconstrução levam uma média de 21 dias para deixar te ter a sensação de "membro fantasma". 

Faça vista grossa para essa tradução esquisita e confira esse livro! Ele é realmente muito legal.   

Crônicas de Mercado 

Periodicamente procuraremos trazer textos (crônicas) para nossos assinantes com o objetivo de levar a uma reflexão mais profunda sobre o mundo dos investimentos, assemelhando-o a nossa vida cotidiana, afinal, investir sempre fará parte da nossa vida cotidiana. Denominamos esses textos como “Crônicas de mercado”, e cada um deles virá com um tema diferenciado. 

O IGT e o investidor sortudo 

Um conhecido, Gestor de inegável sucesso, gosta de usar algumas frases de impacto: umas das que ele mais usa é "quanto mais eu estudo, mais sorte eu tenho”. 

Sem dúvida é uma frase interessante. Mas será que ela é só bonita ou há algum fundo de verdade nela? 

Para refletirmos sobre isso, vamos voltar ao ano de 1985, nos Estados Unidos. Um rapaz de 30 e poucos anos, chamado Elliot, tinha uma vida típica de anúncio de margarina: boa esposa, funcionário exemplar e elogiado por todos. Tinha um cargo executivo de baixo escalão em uma empresa grande. Seu chefe estava bem satisfeito com seu desempenho. 

Um dia, sem mais nem menos, Elliot começou a ter dores de cabeças lancinantes. Uma aspirina quebrava um galho durante algum tempo, de forma que sua vida continuou igual. Após alguns meses, sua esposa, assustada, o levou a um neurologista. Exames foram feitos e foi constatado um tumor. Era benigno, mas já estava bem grande. Era caso de cirurgia. Durante o procedimento, foi preciso retirar um pedaço do cérebro, que havia sido esmagado pelo tumor. 

Pouco tempo depois, ele já estava "pronto para outra". Reestabelecido em casa, voltava para a rotina de trabalho. Mas sua mulher havia reparado algo muito estranho. Ele não parecia mais ser capaz de tomar decisões simples, dessa que tomamos tantas vezes todos os dias. Seu chefe também logo percebeu que seu tico e teco não estavam funcionando conforme previam os manuais. 

Elliot nunca conseguia terminar as tarefas que lhe eram passadas, e ficava horas e horas parado em detalhes quase insignificantes. Pouco tempo depois foi mandado embora do trabalho. Conseguiu outras chances, afinal ele tinha excelente currículo. Mas as mancadas se repetiam e ele não parava mais de poucas semanas em lugar algum. A esposa eventualmente o deixou. Elliot foi morar com o irmão. Irmão esse que o convenceu a pedir aposentadoria por invalidez. 

Um neurologista do governo o recebeu, fez uma bateria de exames e concluiu: não há nada de errado com esse indivíduo. Suas aptidões intelectuais estão perfeitamente normais. Pedido de aposentadoria negado!!  

Não houve o que fazer além de recorrer da decisão, pouco tempo depois. Era sua última chance. Mas, dessa vez, ele foi recebido por um profissional que não era só neurologista, mas também neurocientista. Antonio Damasio era o nome da criança.  

Médico e pesquisador português residente nos Estados Unidos, Damasio logo percebeu que havia algo de errado com o seu paciente. Ele parecia incapaz de tomar decisões extremamente comuns. 

Sua teoria, revolucionária para a época, era que havia alguma lesão cerebral na área que produz os afetos, fazendo com que ele não fosse capaz de tomar uma decisão racional. Realmente genial, pois razão e emoção eram tratados na época como áreas que não conversavam uma com a outra.  

Para provar seu ponto de vista, que fez o nosso herói português? Nada mais nada menos do que inventar um teste para medir a relação de tomada de decisão com os afetos. Que inclusive é usado até os dias de hoje. O nome do teste? IGT! 

O IGT (ou Iowa Gambling Test) consiste em dois decks de cartas. Ao tirar a carta, você ganha uma espécie de "sorte ou revés", estilo banco imobiliário. O jogador é orientado a tirar as cartas de um deck qualquer, conforme sua vontade. No deck de número 1, há ganhos pequenos, e perdas menores ainda. Imagine-se ganhando de 3 a 5 dólares ou perdendo de 1 a 3 dólares. No deck 2, há ganhos maiores, mas perdas de uma intensidade ainda maior. Imagine ganhos de 15 a 25 dólares e perdas de 20 a 40 dólares.  

Uma pessoa normal percebe conscientemente após cerca de 20 rodadas que um dos decks é melhor do que o outro, e passa a só retirar cartas do deck 1. O mais curioso é que o cérebro dela percebe antes (por volta de 5 cartas antes) que em um dos decks "dá bom" e em outro deck "dá ruim" no longo prazo. É uma espécie de intuição. Você sabe que "ali é o certo", mas não sabe o porquê. 

Elliot era completamente incapaz de perceber qualquer padrão, não importava se tirasse 20, 50 ou 100 cartas. Damasio acerta mais uma vez!! Provou-se a incapacidade do americano, que pôde se aposentar.  

Pois bem! Voltemos à famigerada sorte... 

Alguns excelentes investidores acertam muito. Acertam mesmo quando não sabem o porquê de estarem acertando.  Isso pode ser chamado de incompetência consciente, de intuição ou mesmo de sorte. 

Não me entenda mal, análise fundamentalista sempre vai ter uma importância suprema. No entanto, afetos bem desenvolvidos podem ajudar muito, detectando padrões antes dos outros agentes de mercado e deixando o investidor em vantagem. Vantagem inclusive para ficar tranquilo em uma forte queda, quando você estudou e confia em um determinado case. 

Racional e Emocional conversando entre si é um dos segredos do investidor de sucesso. Damasio que o diga!!