Recomendação Cultural
Somos da opinião de que cultura é fundamental para o desenvolvimento do ser humano. E isso acaba fazendo de você um investidor melhor, tenha o assunto a ver com finanças ou não. Assim sendo, gostaríamos de oferecer uma indicação quinzenal da qual gostamos e achamos que seria útil.
Sem medo de Rejeição – Jia Jiang
Taí um livro descomprometido e interessante.
Vejo bastante vantagem na leitura no caso de você ser um cara tímido, por vezes sem jeito para conhecer pretendentes ou então caso trabalhe profissionalmente como vendedor.
Jia Jiang é um oriental com uma imaginação muito fértil que decidiu morar nos EUA.
Certo dia ele decidiu arquitetar várias experiências estapafúrdias com intenção de ser rejeitado e montou um blog falando no assunto, que acabou ficando bem famoso.
No livro ele narra várias delas, enquanto reflete a respeito dos aprendizados que teve.
Leitura bem leve e interessante.
Gostei.
Crônicas de Mercado
Periodicamente procuraremos trazer textos (crônicas) para nossos assinantes com o objetivo de levar a uma reflexão mais profunda sobre o mundo dos investimentos, assemelhando-o a nossa vida cotidiana, afinal, investir sempre fará parte da nossa vida cotidiana. Denominamos esses textos como “Crônicas de mercado”, e cada um deles virá com um tema diferenciado.
O Elevador da Discórdia
- Boa tarde!
- Boa tarde.
Os vizinhos se encontraram de maneira bem amistosa. Mesmo porque Arildo e João pouco se conheciam até então.
O elevador do prédio não era dos mais rápidos, mas a essa altura todos já estavam acostumados.
Um dos vizinhos morava na cobertura. O outro no antepenúltimo andar.
Como eles vinham do térreo, talvez essa interação fosse durar cerca de 1 minuto e meio.
Parece pouco, mas no universo dos elevadores não é, não.
- Frio hoje, não é? – Arildo continuou
- Não, não acho. – João retrucou com assertividade.
- Não tá achando frio?
- Nem um pouco. Estou com calor.
- Mas está fazendo menos de 20 graus lá fora.
- Minha sensação térmica é de 40.
A essa altura Arildo nem sabia ao certo o que dizer.
- Estranho.
- Qual é o problema? Eu não posso mais sentir calor nos dias de hoje?
- Claro. É que eu estranhei um pouquinho...
- Não entendo esse preconceito, sabe? – João disparou sem dó. - A sociedade hoje exige uma conformidade. Tem que ser todo mundo um bando de ovelha. Tá errado! “Ai de mim” sentir calor enquanto meu vizinho passa frio.
- Desculpe, não quis ofender. – tentou apaziguar Arildo. - É que eu estou com frio, aí te vi de casaco e pensei...
- Pensou o quê? Que já me conhece? Saiba você que eu uso casaco, mas eu me identifico é como calorento!
- Ok. É que eu nunca tinha visto... (antes de ser interrompido mais uma vez, Arildo percebeu o erro em ter aberto a boca novamente).
- Vê se pode? Questionar minha identidade?! Nos dias de hoje??
Esse diálogo obviamente causa estranheza. Não é isso que esperamos de uma conversa de elevador.
Dentro de uma sociedade, costumamos criar conexões com outros seres humanos achando coisas em comum.
Parece besta. Mas se eu não conheço alguém que encontro em um elevador e ele me diz que está com frio e eu também, isso é de certa forma tranquilizador.
É um indicativo de que não estamos diante de uma pessoa desequilibrada, e que podemos relaxar naquele momento.
O ser humano gosta de pertencer. Aliás, gosta, não. Precisa. É uma necessidade biológica, que se exterioriza de várias formas. Algumas sutis, como concordar com estranhos no elevador; outras nem tão sutis assim, como gritar e pular num estádio a ponto de balançar suas arquibancadas, torcendo para jogadores que ao final do jogo trocarão camisas e jantarão juntos na churrascaria.
Você conhece alguém novo e estende a mão para cumprimentá-lo. Seu subconsciente reconhece o gesto como amistoso, onde o estranho mostra que não está de posse de nenhum punhal naquela mão.
Depois que vocês já prometeram não se apunhalar, o passo a seguir é dizer alguma obviedade, para que o seu interlocutor possa concordar e algum vínculo emocional seja estabelecido.
Antes de mais nada, se você é formado em história, antropologia, sociologia ou algo similar, favor perdoar minha ignorância.
Na grande maioria das vezes, essas teorias saem 100% da minha cabeça, e poderiam parecer bem disparatadas para uma mente especializada.
Voltando do disclaimer em que eu admito não ter aprendido quase nada em minha faculdade de comunicação, faz-se necessário retornar ao assunto.
Falávamos da obviedade, e o quanto isso é responsável por conexões emocionais.
Até aí tudo bem. Isso é assim desde que o mundo é mundo.
Mas apesar da pressuposição de que o óbvio sempre foi dito, parece haver um aumento do efeito na carência do ser humano.
A rotina do mundo mudou muito. Não se passa tanto tempo com os amigos hoje em dia... passa-se mais tempo em casa... O resultado é uma maior carência e receio de ir contra os outros.
Pois bem. Na transmissão dos esportes não tem sido muito diferente.
Peguemos as transmissões de futebol nos últimos anos.
Os microfones usados por narradores, comentaristas e repórteres são instrumentos de um festival de obviedades.
É comum ouvir frases como:
· Quem não faz, leva.
· Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.
Perceba que essas 2 frases são quase alternativas perfeitas.
Um time sufoca o outro durante bastante tempo... Se sair o gol, “água mole”. Se o outro time emendar um contra-ataque e marcar, “quem não faz, leva”.
Recentemente o negócio tem escalado.
Não bastasse ouvir obviedades dos jornalistas esportivos, agora os telespectadores também querem contribuir.
Parte da transmissão esportiva é dedicada a ler mensagens de internautas, que invariavelmente dizem coisas como:
· “quem não faz, leva”
· “o time que jogou com 2 a menos acabou ficando cansado”
· “o jogador que fez 3 gols foi o melhor em campo na minha opinião”.
O mercado financeiro não está livre disso.
Muito pelo contrário. Há influencers e até mesmo profissionais da área que só falam o óbvio. Como se comunicam com muita confiança, parece que o cara sabe muito!
Isso é muito importante.
Escolha com carinho e com critério as pessoas a serem ouvidas.
Não gostaria de ver você venerando gente que só sabe dizer que, se a cotação não subir e não ficar parada, certamente irá cair!
