Dados Econômicos
Esta semana tivemos a divulgação do IPCA de janeiro de 2025, o qual fechou em 0,16%, depois de uma alta de 0,52% em dezembro, sendo o menor índice para um janeiro desde o Plano Real. Pois é, falando assim parece que a notícia foi muito positiva, mas não foi tanto.
No começo do ano havia uma expectativa no mercado que o IPCA de janeiro poderia vir levemente negativo, algo como -0,02%. A Anbima, por exemplo, tinha projetado, em 10/01/2025, que o IPCA de janeiro seria de 0,04%, mas reviu depois em 24/01/2025 para 0,16%.
Isso significa que o índice até veio baixo no comparativo de dezembro e histórico, mas era esperado menos.
Depois, a expectativa de uma inflação elevada em fevereiro permanece. A Anbima reduziu um pouco a sua expectativa para a inflação de fevereiro, agora está em 1,34% e passou a divulgar a de março, que está em 0,50%. O mês de janeiro foi muito beneficiado por uma queda no preço de energia pontual, o que não deve se repetir em fevereiro e, por isso, a previsão desta inflação mais elevada. Essa queda da energia foi algo muito pontual envolvendo Itaipu.
O índice de difusão ficou elevado, em 65%, espalhando a inflação por mais produtos.
Assim, seguem as expectativas para uma inflação mais elevada e, caso este cenário seja confirmado, acredito que possa haver um carrego da inflação para março e abril, como já estamos vendo nas expectativas.
Neste cenário os FIIs de recebíveis devem passar a responder em termos de melhora dos rendimentos nos meses seguintes, mas, antes, como o índice de janeiro é mais baixo, alguns podem até ter observações de pequenas reduções. Nos resta saber se os investidores serão tão reativos a pequenas mudanças e, depois, se serão reativos a um aumento do rendimento. Em cenários passados este possível aumento dos rendimentos valorizariam as cotas dos FIIs de recebíveis; no entanto, com este cenário de certa depressão nos mercados é muito difícil ter algumas expectativas. O importante será o investidor está preparado para o fato de que as cotas possam não reagir, mas os seus rendimentos virem maiores.
Como você vai observar ao longo deste relatório, os fundos da Kinea, que possuem os rendimentos mais reativos a mudança inflacionária, em razão do modelo de contabilização, possuem reservas de renda, o que deve suavizar essa inflação de janeiro.
No cenário de juros, os títulos com vencimento em 2035, com cupom semestral, fecharam a semana com juros de 7,51%, nada muito diferente do que fechou na última semana.
Por fim, tivemos a divulgação da pesquisa Datafolha sobre a avaliação do Governo Lula. Segundo o Datafolha a avaliação positiva caiu para 24% e a negativa subiu para 41% e isso fez com que muitos investidores ficassem de certa forma empolgados com uma possível mudança política, seja deste Governo, para retomar a sua popularidade, seja pela mudança nas eleições de 2026. Tanto que vimos algumas ações subindo bem nesta sexta-feira e o Ibovespa apresentou uma boa valorização de 2,70%. As ações possuem mais volatilidade, então é normal que sintam esses efeitos do Sr. Mercado mais rapidamente e com mais volatilidade. Claramente o Sr. Mercado não gosta deste Governo e isso gera impacto nos preços.
Essa notícia uma semana depois do meu texto sobre gatilho, pode fazer com que alguns investidores acreditem ser isso o gatilho necessário; no entanto, acredito que é meio cedo para se achar isso. O atual Governo vendo a sua popularidade cair poderia se valer mais da máquina pública e aumentar o gasto do Governo? Quem sabe.
Mas seria esta a construção daquele gatilho que estamos esperando? Pode ser. Quem sabe ao invés de aumentar os gastos públicos do Governo, faça o contrário, para permitir um melhor controle da inflação e uma redução dos juros.
A verdade que tudo é possível e o investidor sempre terá o risco de colocar a sua paixão política na sua análise, o que aconselho não fazer.
Neste momento, uma oscilação nos valores dos ativos em bolsa, como vimos nesta sexta-feira, parece mais um episódio do Sr. Mercado em sua vertente maníaco-depressivo, do que uma potencial mudança.
Assim, sigo entendendo que este é o momento de estarmos comprados e comprando, mas ao mesmo tempo termos cuidado para ter serenidade em analisar todos os dados, sem pressa, pois o gatilho dificilmente será uma única notícia. Esta notícia trará desdobramentos e esses podem ou não começarem a construir esse gatilho, mas não saberemos de verdade até ter passado.
Potencial de valorização, último relatório
No último relatório apresentei uma longa carta para o assinante sobre a minha leitura do momento atual do universo dos FIIs e a expectativa de futura.
Esta semana escutei um podcast do Stock Pickers, disponível no seguinte LINK, e achei muito interessante pois os participantes falam justamente sobre este potencial de valorização. Lá, claro, falam sobre o potencial de valorização em ações, mas acho que vai na mesma linha do que escrevi, sobre quando um gatilho aparecer, a valorização será muito rápida. É evidente que muitas ações terão valorização muito maior que os FIIs, é da natureza do investimento. As ações têm uma volatilidade muito maior e o negócio de ações gera esta possibilidade. Isso não significa que você tenha de ficar 100% em ações, é uma questão de analisar o seu conhecimento, como você lida com os seus investimentos e calibrar a carteira.
Espero que você goste do podcast, o qual, por sinal, do tempo 1:24:00 passa a falar de FIIs, algumas coisas bem corretas, mas faz um infeliz comparativo dos rendimentos dos FIIs com as LTN, que são os títulos pré do Governo, o que não faz o menor sentido, pois ignora totalmente os demais componentes dos patrimônios dos fundos. Isso não desmerece em nada a qualidade dos entrevistados e do episódio, nós precisamos sempre buscar extrair o melhor de tudo que lemos ou ouvimos, por isso precisamos ter um viés crítico para tudo.
O que ler neste relatório
Não deixe de ler os tópicos de MCCI11 e MCRE11. Os dois fundos da Mauá permitiram explorar bem o universo da tabela de sensibilidade, o seu significado, os seus riscos e potenciais.
Nem sempre temos exemplos tão claros e juntos ao mesmo tempo para dar este tipo de explicação e mostrar como os FIIs de recebíveis e os FoFs/Multiestratégias estão muito descontados.
FIIs de recebíveis administrados pelo BTG
No relatório 3 eu fiz um destaque na carta inicial sobre as implicações que temos nos finais de semestre com os FIIs de recebíveis que estão administrados pelo BTG. Sempre no final de semestre o BTG lança os rendimentos a serem distribuídos no passivo do fundo e isso reduz de forma meio abrupta o VP deste FII. No mês seguinte este passivo passa a não constar mais e o VP sobe novamente, até o final do próximo semestre.
Assim, por volta do dia 15 de janeiro, quando foram divulgados os informes mensais de dezembro (fechamento de semestre), os VPs desses fundos reduziram. Agora, por volta do dia 15 de fevereiro, todos esses VPs vão subir. Falo mais disso no tópico de MCCI11 e já falei naquele relatório 3, quem não lembrar vale resgatar.
Isso faz com que um fundo com um determinado desconto sobre o VP hoje, simplesmente com esta mudança passe a negociar com um desconto ainda maior, sem que ocorra a oscilação de cotas, mas pelo fato de o seu VP ter subido por uma regra contábil do administrador. Veja, não é Gestor, mas administrador, MCCI11 e MCRE11 não são geridos pelo BTG, mas são administrados por eles, como AFHI11 e RINV11.
Ocorre que achei importante fazer uma ressalva para o assinante e que não tinha feito antes. Quando observamos este detalhe, sim, o desconto de valor de mercado para o valor patrimonial oscila e aumenta, valendo para todos os FIIs administrados pelo BTG.
Mas os fundos que não são administrados pelo BTG, como funciona?
Se pegarmos os fundos administrados pela Intrag, por exemplo, este passivo está lá todos os meses e não apenas no fechamento do semestre. Como os da Vórtx, da Genial, da XP e de todas as demais administradoras que não o BTG.
Isso significa que sim, ocorre um aumento deste desconto de valor de mercado x valor patrimonial nos fundos do BTG, no entanto, para fins comparativos com outros fundos, o valor patrimonial do fechamento de semestre é o mais comparável, pois todos os demais administradores usam a regra de lançar no passivo esses rendimentos a pagar todos os meses, fazendo com que o VP seja mais baixo todos os meses e não apenas no final do semestre.
Aqui não há certo ou errado, apenas uma característica desses fundos e que é importante o investidor entender para comparar eventualmente detalhes. Claro que entre um fundo com 23% de desconto para o VP e com 25% de desconto, a diferença não é tão grande assim. Um detalhe importante de comparação e compreensão é o caso das emissões. A Mauá, no passado, ajustou o seu VP com base nesses rendimentos, lançando manualmente no passivo, o que faz a emissão ser no VP em termos comparativos com quaisquer outros fundos das demais administradoras. Já o AFHI11, que também é administrado pelo BTG, não fez este ajuste e no final a sua emissão é como se fosse levemente acima do VP, caso usássemos os comparativos dos FIIs de recebíveis das demais administradoras, o que de certa forma potencializa o VP para cima.
Ter esta compreensão nos ajuda a concluir, o que no passado eu disse que não tinha uma opinião formada, que a Mauá ao fazer o ajuste não faz uma emissão abaixo do VP, ao contrário, a faz no VP nos termos comparativos com todas as demais administradoras. Também nos ajuda a entender o motivo que ao olharmos em sites de pesquisa de dados, como temos já no DesmistificandoFII, o motivo pelo qual o indicador P/VP se alterou em alguns fundos e em outros não, em razão da regra diferente do BTG como administrador.
Assim, apesar de isso ser o detalhe do detalhe, acho importante o nosso assinante ter este tipo de conhecimento e reflexão.
