Dados Econômicos
Esta semana um ponto que movimentou um pouco as opiniões no mercado financeiro dizem respeito ao IBGE e a confiabilidade do IPCA, o que pode ter influenciado um pouco títulos que sejam atrelados ao índice.
Não é de hoje que o Presidente do IBGE tem sido criticado e tem sido objeto de desconfiança dos investidores sobre o IPCA, já tendo sido objeto de texto aqui no relatório.
Ocorre que agora muitas críticas têm sido feitas de dentro do IBGE, por servidores do órgão. E esta semana 134 funcionários do órgão assinaram uma carta aberta criticando, novamente, o Presidente, acusando-o de autoritário, de deteriorar o clima organizacional e de que “as lideranças encontram sérias dificuldades para desempenhar suas funções no IBGE”. E tudo isso começou depois que foi anunciada uma proposta para criar a Fundação IBGE+, acusada por alguns de ser um IBGE paralelo.
Permita-me citar dois parágrafos desta carta para o assinante e que ajudam a entender um pouco o momento:
Diferentemente do que diz o referido comunicado, os servidores nunca atacaram ou
levantaram mentiras sobre o IBGE. Ao contrário, somos absolutamente comprometidos com a qualidade das informações estatísticas e geocientíficas que produzimos até hoje. Os dados produzidos no IBGE seguem princípios e metodologias confiáveis e internacionais. Nossa preocupação é justamente manter a qualidade e, sobretudo, a confiabilidade dos dados. Por esse motivo, a criação de uma fundação público-privada que usa o próprio nome do IBGE, sem que houvesse ampla discussão sobre os possíveis riscos à nossa autonomia e à confiabilidade dos dados, tem mobilizado intensamente e com razão nosso corpo técnico.
A condução do IBGE com viés autoritário, político e midiático pela gestão Pochmann é a verdadeira causa da crise em que se encontra a instituição. Sua gestão ameaça seriamente a missão institucional¹ e os princípios orientadores² do IBGE, na medida em que impõe a criação da Fundação IBGE+ como única alternativa às demandas por recursos financeiros para a realização das pesquisas e projetos que compõem nossa agenda de trabalho.
Fonte: https://static.poder360.com.br/2025/01/carta-nucleo-chile-ibge-20-jan-2025.pdf
Destaco esses dois parágrafos, pois em nenhum momento se fala em que os dados do IBGE não são confiáveis, ao contrário, destaca-se que são; no entanto, fala-se que há uma ameaça aos “princípios orientadores do IBGE”.
É evidente que este tipo de discussão gera preocupação dos investidores, os quais se questionam se o IPCA vai mesmo medir a inflação do país de forma adequada, ou não. Cuidado para não confundir esta discussão com aquela de que o IPCA não mede a inflação individual de uma pessoa. O tema aqui é diferente, no sentido de se o IPCA vai ser capaz de medir a inflação do país, mesmo que esta comece a subir.
Isso é importante, pois muitos títulos de renda fixa, como a NTNB, possuem o IPCA como índice de correção e se este não for capaz de medir a inflação, o investidor naturalmente vai exigir um juro mais elevado para compensar este risco. No mundo das finanças os riscos sempre vão para dentro dos juros, se há um receio de o IPCA ter uma medição inadequada, isso é um risco e então vai para os juros. Simples assim.
Depois, esta semana também começou um debate sobre formas para reduzir a inflação dos alimentos, tentando controlar a escalada de seus preços. Evidentemente isso também gera repercussão, pois sabemos que dificilmente intervenções governamentais conseguem controlar a inflação desta forma no longo prazo. Normalmente o que acaba acontecendo é um controle dos preços no curto prazo, mas com um efeito rebote lá na frente, com inflação mais elevada. Isso acontece pois se busca atacar o efeito, que é a inflação nos alimentos, e não a causa.
O assunto foi tão forte que ao meio-dia desta sexta-feira, antes do fechamento deste relatório, três Ministros de Estados fizeram um pronunciamento público sobre o tema, explicando que o Governo não vai controlar preços de alimentos, que o Governo não vai ter “fiscais do Lula”, uma alusão aos fiscais do Sarney, que fiscalizavam os preços dos supermercados, que não serão feitas alterações sobre a forma de apresentar a data de validade dos alimentos etc. Tentaram acalmar o mercado dizendo que não haverá intervenção e que os preços dos alimentos seguem o mercado internacional, os preços de commodities etc.
Essa fala ao meio-dia da sexta mostra o quanto o tema já estava repercutindo e foi necessário dar uma acalmada na opinião pública.
Tudo isso vai acontecer? O IPCA será maquiado? Farão uma tentativa de controlar os preços dos alimentos?
Bem, responder essas perguntas com sim ou não seria no mínimo irresponsável e não farei. O objetivo de trazer o tema é mostrar que essas notícias correm o universo financeiro e vão gerar impacto aos investidores, podendo fazer preço, ou seja, impactar o spread de juros.
Se este tipo de discussão continuar e aumentar as dúvidas sobre a confiabilidade do IPCA, ou sobre medidas de curto prazo para baixar o IPCA e que podem gerar impacto de alta no longo prazo, teremos dificuldades para ver os juros futuros reduzirem.
E como eu já escrevi no texto anterior, se alguém tiver a ideia estapafúrdia de alterar o IPCA, os grandes atores do mercado financeiro, como os bancos, vão observar, pois eles também fazem suas medições, e isso vai para os juros, ou seja, será difícil de ver a NTNB cair, mas agora por outros problemas.
E na prática, como se proteger disso?
Não gosto de tomar decisões sobre investimentos baseada em notícias, ou em temores políticos. Isso acontece o tempo todo e se tomarmos decisões o tempo todo com base nisso, vamos perder dinheiro e cabelo, de tão louco que vamos ficar. Mas, também não podemos ser aquele tipo de investidor que observa os riscos e não se prepar. Uma das formas de se preparar é ter uma carteira diversificada.
No último relatório destaquei como os FIIs de recebíveis estão descontados, exageradamente descontados. Não seria difícil ficarmos com a sensação de que faria sentido migrar quase toda a nossa carteira para esta classe de ativos, dado o desconto exagerado; no entanto, como fica a diversificação e a proteção dos riscos que não conhecemos?
Títulos de renda fixa, como os investidos pelos FIIs de recebíveis, normalmente possuem juros e mais um índice, como o IPCA. Se o IPCA não reflete de forma adequado a inflação, os juros precisam ser mais elevados para compensar. Mas se há uma diferença muito grande entre a inflação e o IPCA, esses juros podem ser corroídos e o nosso ganho real ser menor. Uma das formas de proteger, ou pelo menos proteger parcialmente, é ter imóveis, uma vez que esses tendem a gerar uma proteção mais adequada da inflação real e não do IPCA. Claro, no longo prazo e, claro, não é uma regra absoluta. É neste momento que entra a diversificação com os FIIs de tijolo.
Por favor, não leia este texto e pense que o IPCA será manipulado e você não deve ter mais títulos atrelados a este índice. Não é isso e nem teria como ser. Apenas estou mostrando a discussão que ocorre no meio financeiro neste momento, demonstrada pela preocupação do Governo ao fazer uma coletiva de imprensa na sexta-feira. O meu objetivo aqui é trazer a discussão para conhecimento, mas também ressaltar a importância da diversificação, que visa nos proteger daquilo que não sabemos ainda. E aproveito para reforçar que, apesar dos FIIs de recebíveis estarem muito, mas muito descontado, com uma margem de segurança enorme, não acho uma boa ideia sair por aí vendendo todos os FIIs de tijolo e concentrar muito nesta outra classe, mas apenas uma parte, aumentando um pouco os FIIs de recebíveis.
Assim, concentre os aportes nos FIIs de recebíveis e FoF/Multiestratégia neste momento, mas não deixe de lado a sua diversificação da carteira.
Ainda sobre a inflação, esta semana foi divulgado o IPCA-15, considerado a prévia da inflação. O índice fechou em 0,11% em janeiro, o que pode parecer baixo, mas não é, uma vez que o mercado esperava um índice negativo. O problema aqui é que, ficando acima das expectativas, e sendo as expectativas para fevereiro bem elevadas, na casa dos 1,30%/1,40%, isso nos deixa um pouco preocupados. Tanto que a Anbima já reviu as suas projeções do IPCA de janeiro e fevereiro. Para janeiro aumentou de 0,04% para 0,16% e para fevereiro aumentou de 1,38% para 1,41%. Se tivemos este nível inflacionário em fevereiro e não cair bruscamente em março, os FIIs de recebíveis terão um primeiro semestre de 2025 excelente em termos de rendimentos.
Por outro lado, não temos só notícias ruins na parte de expectativas de inflação. O assinante deve ter observado que o dólar teve uma queda bem considerável esta semana. Dólar em queda ajuda a controlar um pouco a inflação e esta é uma notícia muito positiva. Precisamos de mais quedas e de uma constância no preço do câmbio, mas este começo já é uma ótima notícia.
Ou seja, como sempre, todas as semanas somos abastecidos com várias notícias, algumas vezes negativas, algumas vezes positivas. Precisamos ter muito cuidado para não tomar nossas decisões de investimentos com base em notícias de curto prazo, mas buscar racionalizar o longo prazo e entender como podemos diversificar a nossa carteira para esses vários cenários e quais estratégias adotar. E, com certeza, uma excelente estratégia é investir em ativos que geram fluxo de caixa.
Por fim, falando em juros futuros, esta semana a NTNB 2035 fechou em 7,81%. Pois é, muito alto. A de 2045 em 7,48%. Enquanto este cenário seguir, os FIIs estarão descontados, como as NTNBs estão descontadas, como as ações estão descontadas, assim por diante.
Acabou o dinheiro
Você tem hoje muito dinheiro para investir em FIIs?
Pois é, acredito que não. Boa parte dos investidores passam por esta situação, não ter muitos recursos para compras grandes de FIIs. E aqui não falo só do investidor pessoa física, mas dos fundos também. Poucos fundos possuem caixa para ir às compras. Nem mesmo o RINV11, que havia feito uma excelente captação, tem mais recursos. Bem, não esperaria diferente, os profissionais que gerem o RINV11 sabem ver uma oportunidade diante de seus olhos e não ficariam sentados em cima de caixa, mesmo sabendo que o mercado poderia estressar mais ainda.
Sem muito dinheiro, como fazer o mercado subir? Pois é, ou encerram as vendas, o que parece difícil de ocorrer por enquanto, ou entram investidores novos, o que também parece difícil de ocorrer.
O ponto é só um, sem uma sinalização de que os juros futuros possam começar a ceder, dificilmente teremos uma valorização das cotas dos FIIs, pois, não teremos fluxo de dinheiro suficiente para fazer isso acontecer.
Mas, quem quer que as cotas subam? Pois é, quem entende adequadamente os investimentos e o momento não quer e aproveita para seguir comprando renda com menos dinheiro.
Assim, continuemos a fazer os nossos investimentos e aumentando a nossa renda.
Plantão de dúvidas
No próximo dia 28/01/2025, às 19h, faremos o nosso primeiro plantão de dúvidas do ano.
