Quem roubou a cena esta semana foi o “tarifaço do Trump”. Os EUA definiram uma série de novas tarifas para produtos importados de diversos países, entre eles o Brasil.
Sobre o tema, gostaria de compartilhar dois textos do Buffett com o assinante. O primeiro, de 2003, está disponível no seguinte LINK. Este texto é incrível. Eu já tinha lido no passado, mas com outro viés. Um amigo mandou novamente e ele se encaixa muito bem para refletir sobre o que está ocorrendo nos EUA e pode acontecer no mundo. O outro texto é recente, de 03/04/2025, e do site da Forbes, disponível no seguinte LINK.
Muitos investidores gostariam que tivéssemos respostas para quais setores, quais ativos serão mais ou menos afetados; no entanto, entendo ser pouco provável alguém ter esta resposta. O que teremos é uma série de incertezas sobre o quanto isso afetará o comércio internacional, como isso afetará a inflação na maior economia do mundo, consequentemente os seus juros reais. Quanto isso poderá levar os EUA a uma recessão e o quanto disso impactaria outros países, uma vez que é a maior economia do mundo.
Esse segundo texto que eu compartilhei, ao dizer que essas tarifas são como um ato de guerra e que convida a retaliação parece expressar um pouco das incertezas que estamos por viver.
É muito difícil de entender se alguns países terão dificuldades em exportar seus produtos para os EUA, se essas tarifas serão repassadas para o consumidor americano, ou reduzirão as margens dos exportadores. Mas, uma coisa nós sabemos, teremos muitas dúvidas, muitas incertezas. E outra coisa nós sabemos, o mercado odeia incertezas e isso já ficou claro nessa quinta e sexta.
Na quinta o mercado americano caiu com força e muitas commodities caíram também com força, especialmente o petróleo, com o receio de uma recessão na maior economia do mundo. Mas muitas ações brasileiras tiveram uma boa valorização e o dólar caiu nesta quinta, bem como os juros futuros por aqui caíram. Claro que as ações de commodities desvalorizaram, mas muitas ações do mercado interno tiveram até boa valorização, no vácuo da queda dos juros futuros.
Ocorre que na sexta a situação mudou para o Brasil. O mercado americano e as commodities seguiram caindo e as ações brasileiras entraram em modo de queda forte, mesmo com os juros futuros caindo. Já o dólar voltou a subir.
Incertezas geram mais volatilidade.
“Rodrigo, você está falando em queda nas ações, mas aqui é o relatório de FIIs, não o de ações”.
Calma gente. É que todo este movimento passou longe dos FIIs, os quais observaram pequenas quedas.
O maior impacto desse cenário nos FIIs parece que virá dos juros futuros, uma vez que uma queda nos valores das commodities, especialmente do petróleo, pode ser deflacionária, o que facilitaria uma redução dos juros. Uma recessão nos EUA também pode ser deflacionária, o que também geraria redução dos juros. Depois, uma dúvida que não tem resposta ainda é se os exportadores reduzirem o envio de mercadorias para os EUA, países como o Brasil poderia se beneficiar ao receber esses produtos excedentes com preços melhores? Infelizmente não tenho resposta para isso, mas sei que se isso ocorrer, novamente seria deflacionário.
Um ponto interessante é a alta do dólar. A economia americana conseguiu um status tão elevado que se há uma expectativa de que ela vá crescer, o investidor corre para ativos em dólar, se há uma expectativa que ela vai entrar em recessão, o investidor corre para ativos em dólar. Uma alta do dólar é inflacionária para o Brasil, o que impacta negativamente nos juros; no entanto, novamente, as incertezas de se o dólar vai continuar subindo, ou se foi um movimento atípico nesta sexta, devem seguir e não temos como prever o que vai ocorrer.
Uma coisa é certa, os FIIs não possuem o mesmo nível de volatilidade das ações, ou seja, se você investe nos dois, pode surgir uma oportunidade de fazer pequenos movimentos dos FIIs para ações, mas pequeno. Os juros futuros caíram. Se olharmos a nossa NTNB de referência, a de 2035 com cupom semestral, saiu de 7,60% no fechamento da semana anterior para 7,46% esta semana, uma boa queda. Mesmo com essas quedas, ações de Properties de construtoras tiveram quedas elevadas, mas os FIIs tiveram quedas muito pequenas.
Assim, o cenário que temos é de certeza ao redor do mundo e a minha visão inicial é que isso pode durar um bom tempo até que se consiga ter uma compreensão adequada do que vai acontecer, se é que vai se conseguir ter uma compreensão correta disso. Durante este período, teremos volatilidade nos mercados.
O que fazer? Um ponto importante é ter ativos geradores de caixa, como FIIs, ou ações pagadoras de dividendos. Não sabemos quanto tempo as incertezas podem gerar volatilidade e se manter investindo neste período é essencial.
Depois, fazer movimentos na carteira pode potencializar o retorno, mas penso que esses movimentos precisam ser feitos com calma, sem queimar a largada. Exemplo, um giro nos FIIs de recebíveis. Esses fundos tiveram uma boa valorização recentemente e isso gera uma tentação para vender esses FIIs e comprar alguns de tijolo, ou mesmo investir em algumas ações de setores extremamente descontados, como Properties ou o setor de petróleo. Ocorre que esses fundos vão gerar excelentes rendimentos nos próximos meses e isso pode segurar bem as cotações, ou até possibilitar novas valorizações. Por outro lado, um aumento das tensões mundiais, com países eventualmente anunciando retaliação aos EUA, podem aumentar a volatilidade, especialmente nas ações e nos juros futuros dos países. Assim, a minha recomendação é cuidar para não se precipitar achando que uma ou duas quedas já seriam suficientes para você sair movimentando a carteira. Se fizer isso, faça de forma bem pequena.
Sim, o universo das ações brasileiras hoje oferece descontos muito exagerados e o investidor que investe em FIIs e ações deveria avaliar possíveis giros do primeiro para o segundo, como deveria ter pensado no movimento do segundo para o primeiro em dezembro. Mas, novamente, parece que o ideal é esperar um pouco. Diria que está quentinho aqui nos FIIs, assim, cuidado antes de pular na piscina fria, ela pode esfriar um pouco mais. O ideal é que esses movimentos comecem a serem feitos com o dinheiro novo e com a renda dos próprios investimentos. Por sinal, a ideia de investir dinheiro novo e a renda dos próprios investimentos é citado no texto de 2003 do Buffett.
Já no universo dos FIIs, caso queira movimentar a carteira entre classes, a ideia segue a mesma dita em relatórios anteriores, acompanhar e avaliar uma oportunidade de receber parte dos bons rendimentos dos FIIs de recebíveis e começar a aumentar os FIIs de tijolo. Se esse movimento de queda dos juros futuros continuar, isso pode levar a uma valorização dos FIIs de tijolo de forma mais robusta, por isso é importante estar atento ao movimento.
Infelizmente esse é um texto só de ideias, sem respostas. Acredito que não se tenha como ter respostas neste momento, apenas dúvidas. A única resposta é que eu espero um aumento da volatilidade nos mercados nas próximas semanas e que este pode não ser um movimento rápido. Ter calma e paciência deve ser o melhor a se fazer, junto com, se for movimentar a sua carteira, faça aos poucos, movimentos suaves.
Não deixe de ler os tópicos de KFOF11 e ITRI11, eles podem dar uma orientação sobre os descontos sobre o valor patrimonial dos fundos que possuem muitas cotas de outros FIIs e o fato de que o indicado P/VP que vemos nos sites de pesquisas hoje não refletem adequadamente o valor atualizado do VP de parte desses fundos, uma vez que os informes mensais ainda não foram atualizados.
A leitura de SNLG11 pode complementar o aprendizado sobre o tema.
Faremos o nosso plantão de dúvidas no dia 08/04/2025, às 19h30min. Assim, programe-se.
Rendimentos FIIs de recebíveis
Como esperado, alguns FIIs de recebíveis já começaram a aumentar os seus rendimentos em razão da inflação mais elevada. Na segunda boa parte dos FIIs divulgaram os seus rendimentos e já vimos o aumento desses naqueles fundos administrados pela Intrag, como KNIP11, ICRI11 e VCJR11. Importante lembrar que KCRE11 leva um mês a mais para observar o aumento, tendo em vista o “delay” maior da inflação. Chamou a atenção o fato de KNHF11 não ter aumentado os rendimentos, estou esperando o relatório gerencial para entender melhor.
Outros FIIs de recebíveis também tendem a aumentar os seus rendimentos ao longo dos próximos meses se a inflação elevada continuar. É claro que a volatilidade global, a queda o preço do barril do petróleo e uma eventual queda do dólar podem mudar o cenário; no entanto, isso deve demorar um pouco para refletir no IPCA, logo, nos rendimentos. Este é um cenário importante a estarmos atento. Se esse cenário global gerar efeitos deflacionários, com juros em queda, os FIIs de tijolo tendem a valorizar mais. Mas, isso é uma questão de acompanhamento.
