Esta semana tivemos a divulgação do IPCA-15 de março, prévia da inflação, e o índice fechou em 0,64%, bem abaixo do mês de fevereiro que foi de 1,23%. O índice de março veio levemente mais baixo que as expectativas, o que fez a Anbima rever a sua projeção do IPCA de março de 0,58% para 0,55% e a de abril de 0,50% para 0,48%.
Ainda sobre inflação, foi divulgado o IGPM de março, o qual apresentou deflação. Pois é, parece que voltamos aquele período em que o IGPM começa a oscilar, enquanto o IPCA segue um pouco mais elevado. O índice fechou março em -0,34%, o que, apesar do resultado negativo, ainda leva a fechar o acumulado de 12 meses em 8,58%. O indicador de março ficou bem abaixo do projetado pela Anbima, que previa 0,52%, o que lhe fez reduzir a expectativa para abril para 0,17%.
A queda do dólar foi o grande impulsionador da deflação.
Apesar desses números, a previsão do Banco Central é que a inflação só possa chegar na meta, que é de 3%, no terceiro trimestre de 2027, trabalhando com um cenário base de 5,10% em 2025 e 3,70% em 2026. Isso fez com que o Presidente do Banco Central dissesse, ao longo da semana, que o Brasil precisará conviver com juros mais elevados por mais tempo.
Aqui entra a ideia de um pé no freio (Copom) e um pé no acelerador (Governo), muito bem escrito pelo economista da Vinci Compass no ano passado. Enquanto este cenário continuar, devemos ter juros mais elevados por algum tempo. E é isso que o mercado tem receio quanto ao novo empréstimo consignado para o trabalhador CLT.
Há um receio de que esses empréstimos se tornem consumo e isso impulsione ainda mais a inflação. A procura por essa nova linha de empréstimo está bem grande como tem sido relatado na mídia, mas entendo que não temos como partir do pressuposto que tudo isso vai se tornar consumo. O brasileiro médio é muito endividado e pode estar trocando uma dívida cara, por uma dívida barata. Mas, evidentemente, não devemos descartar o risco de esses empréstimos se tornarem consumo e isso impulsionar a inflação.
Enquanto todo este cenário existir, dificilmente vamos observar uma queda na taxa dos juros futuros, consequentemente, será difícil observar uma valorização mais vigorosa dos ativos em bolsa, como é o caso dos nossos FIIs. Não confundir aqui, com a correção dos preços absurdamente descontados que tínhamos em dezembro e janeiro. Mas a continuidade de um processo de valorização ficará mais difícil. O que é bom para quem segue investindo e pode comprar mais renda, com menos dinheiro.
Por fim, ainda sobre os juros futuros, é isso que seguimos vendo na NTNB 2035 com cupom semestral, que fechou a semana estável, em 7,60%.
Assim, o cenário econômico segue desafiador para os investimentos e, passado o período em que retiramos os descontos excessivos, a tendência, pelo menos do ponto de vista racional, é termos uma maior estabilidade dos valores das cotas dos FIIs, ficando apenas as oscilações naqueles muito descontados e, eventualmente, os FIIs de recebíveis se beneficiando de um rendimento maior. Mas, isso vamos acompanhar com o tempo.
Giro de carteira – Uma reflexão sobre os FIIs de recebíveis
Caro assinante, você sabe o nível de preocupação que eu tenho com a questão educacional. Eu tenho a visão de que não basta empilhar dinheiro, é necessário empilhar conhecimento, seja para fazermos o nosso patrimônio crescer, seja para no futuro, ou no presente, aproveitarmos este patrimônio.
E é esta preocupação que me faz escrever esta coluna.
Nesses 10 anos escrevendo os relatórios do DesmistificandoFII e ensinando investidores aprendi que um número significativo de investidores busca padrões ou fórmulas fechadas no universo dos investimentos. Muitas vezes essas buscas ocorrem sem querer, como algo automático.
E eu tenho dito das últimas semanas que os FIIs de recebíveis tendem a aumentar os rendimentos em razão da inflação e do CDI maiores, o que pode potencializar um fechamento de GAP do valor de mercado para o valor patrimonial ao longo deste primeiro semestre, podendo gerar uma oportunidade de giro de carteira para aqueles que concentraram mais neste setor, ou um redirecionamento dos aportes para os FIIs de tijolo para quem não concentrou tanto assim.
Sigo com esta projeção; no entanto, não gostaria que o investidor tivesse esta visão como uma premissa absoluta, algo do tipo: “o Rodrigo disse que em maio vamos girar os FIIs de recebíveis para os FIIs de tijolo”.
Peço para que nunca interprete que estou tentando prever o futuro, pois não tento fazer isso em hipótese alguma. O objetivo é sempre analisar o cenário presente, verificar se isso justifica os preços de tela dos FIIs, avaliar as melhores oportunidades e, tentar traçar premissas de futuro, que, caso comecem a fluir como pensadas, podemos agir com mais eficiência.
Assim, esta possível visão de um giro maior dos FIIs de CRIs, para aqueles investidores que concentraram um pouco mais neles, para os FIIs de tijolo, só deve ocorrer após um acompanhamento atento. Para isso acontecer nós precisamos que os FIIs de CRIs realmente valorizem, que já tenhamos colhido parte dos frutos desta inflação elevada, que a inflação dê sinais de que possa desacelerar, ou seja, reduzir os rendimentos que podem estar acima da média, e que os FIIs de tijolo estejam em um ponto que justifique este movimento. Ou seja, é um trabalho de acompanhar e não um trabalho de adivinhar o futuro e dizer o que será feito e quando.
Penso que se não traçamos nenhuma projeção fica difícil de acompanhar e direcionar os nossos investimentos dentro da nossa estratégia, que pode ser girar, ou pode ser simplesmente direcionar os novos aportes, não havendo uma estratégia padrão. Eu busco traçar as projeções diante do cenário que temos com o objetivo de acompanhar atentamente as variáveis, não com o objetivo de saber o futuro.
Vou dar um exemplo de uma experiência que tive recentemente e pode ajudar a explicar a minha visão sobre os investimentos, esses eventuais ajustes de carteira e esse vislumbrar o que pode acontecer.
Esses dias fui fazer uma aula de vela, isso mesmo, velejar um pequeno barquinho, por sinal, muito gostoso. Durante a aula você direciona o leme para onde você quer que o barco vá, mas, diferentemente do que eu imaginava, você não deixa o leme parado em uma posição e o barco vai para aquela direção. Quem sabe um barco à motor vá (bem, também não sei), mas o a vela aprendi que não vai. Você precisa movimentar o leme o tempo todo, o tempo todo. O instrutor me orientou a mirar em um ponto, um objetivo a se chegar, mirando a proa do barco (o lado da frente) para este objetivo e depois movimentar o leme para frente e para trás, fazendo o barco ir até o ponto desejado.
Veja que interessante, você traça uma meta, uma projeção, chegar na casa branca (esta foi a primeira meta por sinal) e começa a movimentar o seu leme para frente e para trás, corrigindo o rumo do barco para chegar lá. Mas não podiam ser movimentos bruscos, mas curtos e suaves, como devemos fazer com as nossas carteiras de investimentos. Ocorre que, do nada, entrava um vento mais forte e a direção mudava e eu precisava corrigir mais fortemente o leme e a vela, algumas vezes, até mudando o objetivo de onde chegar.
Bem, eu fiz só uma aula, achei incrível, mas não tenho condições de te ensinar a velejar em um barco, mas acredito que eu consiga te auxiliar a velejar nos investimentos. Só entenda que não temos como prever os ventos que vão entrar e, na medida que eles forem entrando, tentarei auxiliar você para levar a sua carteira para o seu objetivo, seja qual for a sua estratégia. Tentaremos sempre achar a casinha branca na proa do nosso barco e vamos avaliando o evento e movimento o leme na medida do necessário.
Quando eu digo que a inflação mais elevada tende a aumentar os rendimentos dos FIIs de recebíeis e esses podem valorizar, fechando o GAP do valor de mercado para o valor patrimonial, ao mesmo tempo que isso não altere muitos os juros futuros e as cotações dos FIIs de tijolo, eu estou vendo a casinha branca. Neste momento, parece que o nosso barco está indo para a casinha branca, realmente esses FIIs estão valorizando, mas agora precisamos dos rendimentos mais elevados, precisamos ter sinais de que a inflação vai arrefecer, pois se ela seguir subindo, pode ser que o ideal seja manter a concentração desses FIIs por mais tempo, e, precisamos ver se os FIIs de tijolo não valorizam muito. Ou seja, já temos a nossa casinha branca, estamos velejando com um bom vento, mas estamos no Brasil e os ventos mudam rapidamente e vamos seguir acompanhando. Aos poucos vou dando a minha visão e orientação, que não precisa ser exatamente a alteração na carteira recomendada no momento, como sempre fizemos.
Assim, vamos aproveitar o velejo, pois se o vento mudar, basta ajustar a vela e isso quem sabe até acelere o alcance do nosso objetivo.
Tenho escrito em alguns relatórios sobre como o mercado estava descontado em dezembro e janeiro e que os preços dos FIIs estavam tão depreciados que não precisaríamos de um gatilho de valorização propriamente dito, bastaria que os pessimistas perdessem o poder de venda que a cotação tenderia a ter uma valorização.
É isso que temos observados desde meados de fevereiro e intensificado em março.
E é nesse sentido a fala do Gestor da Canuma este mês e achei interessante compartilhar com o assinante:
[...]Desde então, o que vimos depois da segunda metade de fevereiro e ao longo do mês de março, foi uma recuperação rápida das cotações de vários FIIs, com subidas sequenciais do índice, mesmo em um cenário em que as taxas de juros esperadas seguem elevadas (girando entre 14,5%-15% a.a.), títulos do Tesouro IPCA acima dos 7,5% a.a. e não houve nada de novo no front fiscal. O que mudou então? Nossa visão é que a precificação de alguns Fundos chegou a níveis tão descontados, muito abaixo do valor intrínseco dos seus ativos (sejam eles FIIs de tijolo ou papel), que parte dos investidores deixou de ignorá-los e passou a ver os FIIs como alternativas de rendimentos mensais interessantes, além do potencial de valorização com algum fechamento desse desconto à frente. Como temos destacado nos últimos meses, acreditamos que em momentos como os atuais é que as melhores oportunidades de alocação aparecem. [...]Fonte: Canuma
A valorização das cotas não fez os fundos ficarem caros, o que acontece é que os preços estavam exageradamente descontados e estão voltando ao normal, com descontos mais racionais e, em alguns casos, até sem desconto.
Faremos o nosso plantão de dúvidas no dia 08/04/2025, às 19h30min. Assim, programe-se.
