Primeiro relatório do ano
Desejo a você um excelente ano de 2025, que tenha muita saúde para poder se dedicar a seus projetos de vida, evoluindo a cada dia e que consiga ser um pouquinho melhor do que era no dia anterior, lembrando-se que o nosso comparativo não é com os outros, mas com o que éramos no dia anterior. Se evoluímos, isso é o que importa.
E hoje começamos os relatórios do Desmistificando Research, tanto o de FIIs, quanto o de ações.
Importante lembrar que não alteramos a data de divulgação do relatório de FIIs. Ele continuará sendo divulgado nos domingos. Apenas decidimos adiantar e fazer um extra hoje, para que você não ficasse com tanta saudade de nós. Neste domingo, dia 12/01, nos veremos novamente.
O relatório de hoje também visa não acumular tanto assunto para este domingo e para já auxiliar o investidor em sua decisão de investimento.
Assim, vamos ao relatório.
O que esperar de 2025
Fonte: Valor Econômico do dia 06/01/2025
Fazendo a minha leitura matinal do jornal, deparei-me com a matéria acima e pensei “é isso que o investidor quer, uma previsão objetiva, sem aquele rodeio de pode acontecer isso, ou aquilo. Perfeito, qual a previsão de alta do Ibovespa para 2025. Todos querem isso.”.
Bem, logo que eu li isso, eu pensei “é, por isso que o Desmistificando Research tem um limite de crescimento, pois não acreditamos nisso, mesmo sendo isso que todos querem”. O universo dos investimentos é marcado por uma quantidade tão grande de variáveis, algumas econômicas, outras matemáticas, e outras tantas psicológicas, que é impossível você apresentar qualquer tipo de previsão sobre valorização, ainda que no intervalo de um ano. Pelo menos é como pensamos e por isso que você nunca vê material meu pelas redes sociais do tipo “3 FIIs para 2025” ou “a ação que vai bombar em 2025”, temas que por sinal viralizam rapidamente.
Mas claro, investir também não é uma atividade transloucada, do tipo “escolhe qualquer coisa aí já que não sabe o que vai acontecer mesmo”.
Existe uma diferença bem grande em tentar adivinhar o que vai acontecer com as cotações dos ativos, para calcular e dizer que os preços atuais dos ativos estão muito descontados, ou não, frente aos dados econômicos que temos.
E começamos 2025 exatamente como eu havia descrito no último relatório de 2024, aquele pessimismo exagerado, provocando movimento dos investidores até difícil de ser explicado, dando espaço apenas a um pessimismo. Isso gerou uma recuperação nas cotas dos FIIs, mesmo com a piora dos dados econômicos, mas eles ainda se mantém muito descontados.
A minha visão para 2025 e até mesmo para 2026 é simples, precisamos de uma mudança de ordem política ou econômica visível e que sirva de gatilho para a queda dos juros futuros e isso leve a uma valorização generalizada dos ativos. Ok, parece meio óbvio, mas nem tanto, pois precisa ser visível e não apenas no discurso.
O ponto é que o dólar teve uma forte apreciação e isso gera pressão sobre a inflação, o que gera pressão sobre os juros. Juros mais elevados por muito tempo pode gerar impacto nos gastos públicos, como também pode gerar uma recessão e redução na arrecadação do Estado, o que faria a situação fiscal do país ficar ainda pior, o que pode levar a nova apreciação do dólar e assim vamos entrando em um ciclo vicioso.
Pausa. Observe, não estou fazendo uma previsão catastrófica para o que vai acontecer. Isso não acontece amanhã ou depois, vai acontecendo aos poucos e é isso que os investidores vão colocando na conta. O que quero reforçar é que a mudança política ou econômica necessária para servir de gatilho não poderá ficar apenas no universo do discurso, mas precisará ser apresentada com dados, como eu disse, visível.
Se o Governo conseguir apresentar dados de contas públicas melhores, perfeito, isso pode servir de gatilho para redução dos juros na medida que os dados forem apresentados. Mas os dados precisarão aparecer, pois, se tentar apenas ficar no discurso, o dólar não cede e a pressão na inflação segue e, bem, tudo vai piorando. Na medida que os dados aparecerem, os juros futuros tendem a reduzir e os ativos brasileiros valorizarem; no entanto, lembremos o que escrevi no último relatório de 2024. Nós temos uma quantidade bem grande de ativos isentos de imposto de renda para pessoa física e que brigam pelo dinheiro desses. Ainda que os dados sejam apresentados, a valorização tende a acontecer aos poucos e, muito possivelmente, de forma não linear. Ou seja, uma classe aqui sobe mais, depois outra classe ali sobe mais e assim por diante. Fora o movimento que é de subir um pouco, depois cair um pouco, depois subir mais um pouco.
Como essa eventual melhora pode acontecer aos poucos, o investidor que tiver condições de estar sempre comprando poderá se beneficiar.
Eu não tenho como dizer quanto os FIIs vão valorizar ao longo de 2025 e se vão valorizar, mas, pelo que temos hoje e pela dificuldade que devemos ter de uma valorização generalizada e rápida, entendo que o investidor com capacidade de se manter comprando tenderá a ter um retorno melhor.
Assim, o ideal é o investidor ter um foco em seguir comprando ativos descontados, mas focar bastante na geração de caixa, ou seja, naqueles FIIs que conseguem entregar mais rendimentos já no curtíssimo prazo, para permitir novas compras neste período. Se investir em ações, dê preferência para aquelas que pagando dividendos também, pois isso vai facilitar este processo. Ao mesmo tempo que precisa ter cuidado em não ficar preso no viés do preço passado (vou falar mais disso adiante), ficando congelado e não comprando nada. Quando o cenário futuro é ruim temos a tendência de imaginar que ele só tende a piorar, no entanto, a verdade é que são nesses momentos que algo acontece e consegue mudar, por isso é importante seguir comprando e não tentar achar que seja possível esperar o pior acontecer. Ok, também são nesses momentos que o carro perde o freio e vai morro abaixo, por isso a diversificação é tão importante. Infelizmente o FII é uma classe e a diversificação mais adequada não ocorre apenas entre eles, já que esta diversificação tem limites, sendo o ideal fazer com outras classes, como ações que possuem a receita indexada ao dólar, mas, isso não é assunto para aqui.
Dados Econômicos
O nosso último relatório foi divulgado no dia 22/12 e, naquele momento, a NTNB 2035 estava em 7,22% e as cotações dos FIIs estavam, o que agora conseguimos ver, nos últimos dias de quedas. Desde aquele dia o IFIX já valorizou um pouco mais de 5%; no entanto, alguns FIIs valorizaram bem mais, como CCME11 com valorização de 16%, ou VCJR11 com valorização de 13%.
Ocorre que a NTNB 2035 não reduziu, ao contrário, ela avançou e no momento está em 7,51%, ou seja, avançou bem.
Para alguns investidores isso seria estranho e um possível sinal de queda nas cotações dos FIIs; no entanto, entendo que não dê para fazer esta afirmação.
Nos últimos três relatórios do ano de 2024 fiz questão de destacar como a queda dos FIIs não era mais uma questão apenas de racionalização do que estava acontecendo com as expectativas em nossa economia. No último relatório ainda escrevi que não descartaria uma valorização dos FIIs caso o pessimismo exagerado cedesse lugar apenas ao pessimismo.
Ou seja, parece que foi isso que aconteceu.
A valorização que observamos não foi uma melhora do humor dos investidores, já que não tivemos nenhuma melhora de expectativas. Foi apenas um “ajuste”, já que as cotações dos FIIs estavam ficando exageradamente descontadas. Sim, os juros futuros estavam elevados e subindo rapidamente, mas nada justifica um fundo igual VCJR11 negociar projetando uma TIR de mais de 20%+IPCA, ou justificava? Eu entendo que não. E observe, mesmo com esta recuperação, o VCJR11 negocia hoje com uma TIR projetada de aproximadamente 16% +IPCA. Aqui estou usando VCJR11 pois citei ele como uma das grandes altas e estou considerando sua tabela de sensibilidade, bruta de suas taxas. Ok, a tabela de sensibilidade pode não ser entregue, pois vários fatores influenciam, mas aí estamos no risco, por isso o investidor exige um retorno maior. Mas será que exigir quase 9 pontos percentuais de prêmio faz sentido? Ou o certo era exigir quase 13 pontos?
Assim, não espere quedas dos FIIs como algo que deva acontecer obrigatoriamente, no sentido de que a NTNB hoje está mais alta que a de dezembro, logo, os FIIs teriam que cair. As quedas em dezembro foram exageradas e não há racionalidade que explique a necessidade de novas quedas.
Sim, quedas como aquelas podem acontecer, mas se ocorrerem e nada mudar nos dados econômicos, serão, novamente, movimentos de exageros dos investidores. Movimentos que normalmente são mais marcados por questões psicológicas e de falta de compressão sobre os FIIs, do que com base em dados econômicos.
Depois, o relatório gerencial do GARE11 no final de dezembro trouxe novos motivos que somam à explicação das quedas exageradas ocorridas em dezembro:
“[...] observamos novos rebalanceamentos de carteiras automatizadas, a partir dos preços de fechamento do mês de Outubro [...]. Estes rebalanceamentos se concentram nos primeiros 6 dias úteis e nos últimos 3 dias de cada mês. Por fim, outro movimento atípico que estamos observando é o considerável volume de daytrade no mercado secundário da cota, com investidores operando por corretoras que não possuem tamanha representatividade no breakdown da custódia, mas que têm sido responsável por volume expressivo das negociações diárias (conforme os relatórios que recebemos de nosso formador de mercado e da posição de cotistas informada diariamente pelo administrador do fundo).”
Fonte: relatório gerencial
Dito isso e, novamente, remetendo ao último relatório do ano, nós temos muitos ativos isentos de imposto de renda em nosso mercado, o que deve travar um pouco uma eventual valorização dos FIIs sem que haja um gatilho claro de melhora da economia, ou melhor, de que a economia não vá se deteriorar. Pois o grande problema não é o momento da economia, mas o receio com a sua deterioração futura. Veja, a economia não está ruim, é a preocupação com os números e o impacto no futuro que está gerando este movimento, o que pode parecer fácil resolver a equação.
Ou seja, o investidor deve conseguir fazer bons investimentos nos próximos meses ainda, por isso, siga fazendo, foque o seu caixa neste momento, que pode durar um bom tempo ainda.
Comprei muito barato, e agora?
Esse pode ser um problema de muitos investidores, criarem um viés de valor. Voltemos ao exemplo de VCJR11. O investidor pagou R$ 68,00 e agora resiste em pagar R$ 75,00. O pensamento é “nossa, paguei aquele valor com a NTNB em 7,20%, então agora quero no mínimo aquele valor, vou esperar voltar para aquele preço”.
Ok, não sabemos realmente o dia de amanhã e tudo é possível, mas, como escrevi antes, racionalmente aqueles preços não deveriam voltar.
Assim, cuidado ao se apegar demais ao viés do preço que você pagou. Alguns fundos podem ter valorizado bastante, como VCJR11, mas ainda estarem descontados.
Outra questão que pode estar na cabeça do investidor é “vender o FII que subiu”. Esta é sempre uma decisão difícil e complexa, devendo ser aplicada ao perfil do investidor. Mas, de uma forma genérica, o que eu posso dizer é, cuidado ao ficar com esta tentação de querer vender só pelo fato de ter valorizado. Os FIIs estão muito descontados ainda, alguns ainda possuem espaço para valorização, mesmo com o atual nível de juros, outros só valorizariam com uma queda dos juros, os quais estão muito elevados.
Assim, a recomendação genérica é para aproveitar a boa renda dos FIIs que você pagou barato e seguir comprando mais cotas de FIIs, aproveitando o momento.
O perfil médio do investidor de FIIs não quer girar muito a sua carteira. Não quer vender o FII que subiu mais para comprar o FII que subiu menos. Em geral ele quer comprar o FII, aproveitar a renda e esperar que a cotação valorize, caso isso se aplique aquele fundo. Então, aproveite.
Mas sim, há aquele que busca algo mais descontado dá sim para fazer algum giro. Para este, a minha recomendação é para ser cauteloso. A valorização não foi tão grande assim. Temos alguns FIIs que realmente subiram mais que outros e poderíamos pensar em fazer pequenos movimentos, mas vejo isso como a exceção e não a regra. Assim, para este perfil de investidor, a minha recomendação é fazer isso apenas para aquelas posições que ficaram grande demais na carteira e de forma parcial. Exemplo, o VCJR11 chegou a negociar abaixo de R$ 67,00 e você foi lá e comprou tanto que a posição ficou agora em 9% da carteira. Bem, neste caso seria interessante vender uma parte de VCJR11 e comprar OUJP11, desde que este também não seja um percentual muito elevado de sua carteira. A minha visão seria não eliminar da carteira um fundo descontado só pelo fato de que ele deixou de ser absurdamente descontado, para descontado, mas fazer este ajuste pequeno.
