Recomendação Cultural
Somos da opinião de que cultura é fundamental para o desenvolvimento do ser humano. E isso acaba fazendo de você um investidor melhor, tenha o assunto a ver com finanças ou não. Assim sendo, gostaríamos de oferecer uma indicação quinzenal da qual gostamos e achamos que seria útil.
As Cartas de Warren Buffett
Em homenagem ao Rodrigo que na divulgação do nosso próximo relatório estará chegando em Omaha para assistir o oráculo dos investimentos, a nossa recomendação cultura é sobre Warren Buffett.
Muito se fala sobre o maior investidor de todos os tempos nas redes sociais, mas parece que poucos se deram ao trabalho de buscarem conhecimento sobre seus pensamentos e sua forma de investir. Este livro poderá lhe ajudar a isso.
As Cartas de Warren Buffett é uma organização feita por Lawrence A. Cuningham das cartas que Warren Buffett escreveu ao longo das décadas para os acionistas da Berkshire Hathaway. O livro é fácil de ler, pois ele é separado em tópicos e a cada tópico são compiladas as cartas em ordem cronológica, possibilitando um aprendizado profundo sobre aquele ponto, bem como um conhecimento melhor sobre Buffett. Além disso, torna-se um livro fácil de ler, pois são sempre capítulos rápidos, sendo possível ler naquele intervalo do almoço, do lanche e quando se vê o livro acabou.
Sendo ele o maior investidor de todos os tempos, pregando uma filosofia que nos identificamos tanto, acreditamos que o patrimônio dos assinantes vai se beneficiar desta leitura.
Crônicas de Mercado
Periodicamente procuraremos trazer textos (crônicas) para nossos assinantes com o objetivo de levar a uma reflexão mais profunda sobre o mundo dos investimentos, assemelhando-o a nossa vida cotidiana, afinal, investir sempre fará parte da nossa vida cotidiana. Denominamos esses textos como “Crônicas de mercado”, e cada um deles virá com um tema diferenciado.
O Advogado do Diabo
- Aqui é o consultório do Doutor Clarêncio?
- Isso! – o próprio respondeu – só acabando uma consulta aqui e já te chamo. Fique à vontade, por favor.
O sofá era confortável. “Ainda bem!! Por 400 reais a consulta, sofá confortável é o mínimo do que se poderia esperar!”
A TV estava desligada. Desligado era o canal que Beto mais gostava! Assim não corria o risco de ficar assistindo uma programação de qualidade duvidosa, que claramente não havia sido feito pensando nele como público alvo.
TV até quando é bom é ruim. Eu explico o oxímoro: estava eu “zapeando” pelo Youtube quando descobri que Leandro Karnal tinha feito uma série de documentários para a CNN. “Que bom”, pensei. “Eu gosto dele”.
Pois é... Ponho o vídeo pra tocar e aparece um monte de planos aleatórios de câmera com muita enrolação e pouco texto. Além disso, aquela música exagerada tentando emocionar o telespectador me tirou do sério; não bastasse estar querendo dizer como eu deveria me sentir, a faixa da música ficou completamente desproporcional ao resto do áudio – por vezes igual ou até mesmo mais alto. Que bela bosta...
Já percebi que mudei novamente o andamento do texto. Vou corrigir o rumo.
Nós estávamos na sala de espera do psicoterapeuta:
- Pode entrar, por favor! Seu nome é Roberto, não é?
- Sim, mas todos os meus amigos me chamam de Beto.
- E todos os seus terapeutas? Te chamam do quê?
A piada de Clarêncio não surtiu o efeito desejado. “Tough crowd”, pensou ele, que é o que os humoristas frustrados dizem após fracassar numa apresentação de stand-up comedy.
- Desculpe, Beto. Ainda não é hora para brincadeiras, suponho.
- Não, pode brincar. Eu é que ando com mau humor.
- Sente-se, por favor. E qual seria o motivo do mau humor?
- Ah, doutor. Estou de saco cheio de trânsito, sabe? Eu tenho ficado com muita raiva na hora do rush, e isso é perigoso pra mim.
O terapeuta parecia estar interinamente à vontade:
- Vamos trabalhar isso. Antes de começarmos, queria combinar algumas coisas contigo. Quantas terapias você fez até agora?
- Ah, já fiz Gestalt, Humanismo, TCC, Psicanálise... Tudo o que você imaginar.
- Sei lá. Acho que os terapeutas falavam sempre o que achavam que eu queria ouvir... A conversa não rendia.
- Tenho uma boa notícia pra você então, Beto!
- Meu estilo é completamente diferente. Pra mim o paciente precisa refletir. Preciso provocar a reflexão o tempo todo.
Clarêncio se empolgava cada vez mais com a próprias habilidades, sem um pingo de modéstia:
- Minha modéstia me impede de dizer que sou o melhor terapeuta do Brasil... portanto eu digo apenas que sou o melhor de Minas Gerais.
- Com certeza! (muda o tom da conversa) Você precisa refletir o tempo todo. Qual você acha que é a melhor maneira de fazer isso?
- Não faço a menor ideia.
- A melhor maneira é eu fazer o advogado do diabo.
- Independente do que eu penso e do meu ponto de vista, vou sempre rebater o que você disser. Vou sempre dar um outro ponto de vista ou virar o raciocínio de cabeça pra baixo.
- Nada de especial. Você fala!
Beto já estava bastante intrigado nessa altura. Ele perguntou se poderia começar. Clarêncio fez que sim com a cabeça:
- Eu tenho ficado muito nervoso no trânsito. Aqui só tem motorista sem educação!
- Você conhece todos os motoristas da cidade?
- Você entendeu, né, Dr.? A maior parte dos motoristas não tem educação.
- Bom, ontem mesmo eu estava voltando do trabalho e um carro passou voando e me ultrapassou pelo lado direito e me fechou depois. Tentei correr atrás dele, mas ele foi embora pelo sinal fechado.
- Porquê você foi atrás dele?
- Queria dizer umas poucas e boas!
- Acho que eu ia gritar algo como “Tá doido?” “Como é que tu faz uma merda dessa?”. E depois ia mostrar o dedo médio pra ele.
- Sim, manda ele tomar “naquele lugar”.
- O que ele poderia fazer de ruim?
- Bom... Ele poderia simplesmente ter uma arma e atirar.
- Ia ser uma tragédia, né?
- Quem é que iria me pagar a sua consulta? – o terapeuta completou
Beto deu um risinho sem graça.
- Ok, eu sei que não tá certo.
- Pra extravasar, eu acho.
- O que vai acontecer se você não extravasar?
- Vou ficar tenso. Corre o risco de eu descontar na minha mulher sem querer. Sem razão ela já me enche o saco, imagina se eu der razão pra ela?
Clarêncio continuou na linha de raciocínio:
- Ok. Teria alguma maneira mais madura de extravasar isso?
- Eu poderia apertar a buzina pra dizer que não gostei.
- Ia incomodar gente inocente?
- Eu poderia socar o banco do carro ou gritar com o meu volante.
- Se o seu volante não for o Patrick de Paula, não precisa gritar com ele.
Beto fez cara de que não entendeu. Clarêncio continuava, implacável:
- Peço perdão pela piada de Botafogo, Beto. Me responda uma coisa agora. O sujeito que te cortou poderia estar com pressa?
- Ah, com pressa todo mundo está, Dr. Isso não é desculpa.
- E se ele tivesse recebido uma ligação da escola pra dizer que a filha tava passando mal?
- Criança quase não passa mal, né?
- Ok. Mudemos a ligação. O enfermeiro avisou que o pai dele está muito mal. Ele quer chegar logo lá.
- É verdade... Pode ser isso mesmo. Não tenho como saber.
- Exato. Sente-se melhor?
- Não. Mas me sinto envergonhado.
- Sigamos! Quais são os outros problemas do trânsito?
- As pessoas tão fazendo merda o tempo todo. Esse pessoal fica comprando carteira!!
- Tá. Quando a pessoa faz uma barbeiragem, é possível que seja porque ela dormiu muito mal à noite? Ou porque esteja distraída no momento?
- Sim. É possível. Mas outro dia eu tava perto de um motorista quase tacando o carro no meio-fio. Quando passei por ele, o cara tava com a cara enfiado no celular. Deveria estar cantando alguém no ZapZap!
- Poderia ser que o cara estivesse perdido e nervoso, tentando consultar o caminho no Waze?
- Difícil, né, Dr? A maioria tá só vadiando no Zap.
- Alguma vez você já se distraiu e se percebeu olhando o WhatsApp enquanto dirige?
- Não faça isso! Isso é perigoso pra um caceta! Pode matar você e os outros!
- Quem é que vai pagar a consulta pra você depois, né, Dr.? – brincou Beto, um pouco constrangido.
- Assista o episódio 21x02 do South Park. Vai por mim, cada vez que você se pegar olhando celular no carro volte pra TV e assista de novo!
- Aí eu vi vantagem! South Park é muito legal!
- Sem dúvida. Mas eu não vim aqui pra concordar com você. Vamos discordar mais um pouco...
Vamos olhar de longe o que está acontecendo aqui. Beto se frustra quando percebe que não controla o comportamento dos outros motoristas, e isso pode surpreendê-lo.
No mercado de ações muitas vezes o investidor acha que está dominando o investimento e que sabe pra quanto a ação vai no curto prazo.
É o “Viés da Ilusão de Controle”. Quando você percebe que não controla nada daquilo, se desespera e age por impulso, fazendo bobagem.
Não seja nervoso como Beto!
Se o mercado te der uma pernada, você vai perder muito mais do que os 400 reais da consulta do Clarêncio!
