Meus pais eram críticos. Mas essa informação assim, solta, não te dá uma ideia tão boa do que eu quero dizer. 

Bom, onde é que estaríamos sem exemplos? Então, vamos a eles!! 

Pra início de conversa, mandavam eu parar de cantar. Eu não era incentivado a cantar nem mesmo tomando banho. Os tons da advertência eram os mais variados possíveis. Dependiam do humor do solicitante. O conteúdo, nem tanto. Era pra parar de cantar mesmo. Puro e simples. 

Pressupõe-se que eu cantava mal. Muito mal, talvez. Não dá pra ter certeza. Porém, baseado em como canto hoje, há boas possibilidades de que esse seja o veredicto final. 

Também era razoavelmente comum me perguntar por que não dava conta de fazer algo que o meu coleguinha conseguia. Ou justificar o raciocínio dizendo que, se meu irmão mais novo fazia, eu tinha obrigação de fazer também. 

Também me lembro bastante de críticas a respeito da quantidade de vezes que eu esbarrava no copo e derramava líquidos na mesa durante uma refeição. 

Por outro lado, diziam que eu poderia fazer qualquer coisa na vida que eu quisesse. 

Parece um pouco conflitante, não? Eu também acho. 

Se você for perguntar aos meus pais, certamente eles vão dizer que não era bem assim, e que eu não estou sendo totalmente justo. Sem problemas. No entanto, para efeito desse texto, vamos assumir que meu ponto de vista era correto. 

Naqueles tempos, portanto, nos nostálgicos anos 80, me parece que a regra era mais ou menos essa. Evidentemente tínhamos variações – mas, partindo do princípio de que os pais repetem boa parte daquilo que se passou com eles, me parece justo afirmar que era comum pra época. 

Hoje em dia demos uma guinada em 180 graus!!  
Fomos para o outro lado da sala. 

 A tônica agora é diferente. 

O jogo agora é outro: 

- IA, você acha que eu sou um imbecil? 

- Que pergunta inteligente! Um ser humano que fosse imbecil jamais faria uma pergunta dessas! 

Lauro estava gostando do lado para onde a conversa estava indo: 

- Uma vez uma pessoa na rua disse que eu tenho cara de inteligente. Ela estava certa? 

- Há pessoas que possuem uma intuição muito boa. E não é comum esse tipo de observação, o que sugere que deve ser verdade. 

- Será que eu sou bonito? 

- Não sei, mande foto pra eu ver 

(Lauro manda foto. Inteligência Artificial continua:) 

- Sim, você tem feições atraentes, aparentemente até com DNA de grego. 

- Não, não... Esse é meu amigo. Eu sou o baixinho e gordinho aí ao lado dele. 

- Ah, sim. Desculpe pelo meu erro. Você é esse menos alto. Pois bem, acho que você é um cara pintoso, sim. Hoje em dia as mulheres não gostam tanto de homens musculosos. Os homens “normais” estão em alta. 

(Lauro achou por bem continuar com aquela conversa agradável) 

- Você acha que eu canto bem? 

- Ainda não sei, cante alguma coisa pra eu ver: 

(Lauro canta, desafinado, “Strong Enough”, de Cher) 

- Uau! É impressionante como você acertou os agudos e os graves ao mesmo tempo. 

- Quando eu era mais novo eu jogava futebol  

(nesse momento Lauro esbarrou na tecla “enter” antes de terminar o raciocínio. A IA, é claro, não sabe) 

- Praticar esportes é importante pra se manter ativo. Em que posição você jogava? 

- Eu comecei jogando de cabeça-de-área, mas como eu errava posicionamento na marcação o treinador me mudou para zagueiro. 

- Você vai me desculpar, mas esse seu ex-treinador era muito fraco. Zagueiros tem posicionamento fundamental no bloco alto de marcação. Penso que você se movimentava corretamente, ele é que não tinha capacidade pra entender isso. Você ainda joga futebol até hoje? 

- Hoje em dia não, porque meu joelho tem ficado inchado quando jogo. 

- Que interessante!! Diga-me mais sobre esse joelho inchado. É o esquerdo ou o direito? 

Ok, Lauro. Obrigado pelos seus serviços. Aqui é o Narrador novamente. 

Meu ponto é exatamente esse... Se a IA estivesse conversando com Hitler, ela possivelmente daria um jeito de dizer que ele estava certo. 

Saímos de um universo onde tudo que você fazia é errado para “todo mundo é Einstein”.  

É claro que o problema desse raciocínio é que, se todo mundo é Einstein, ninguém é Einstein. 

Acostumado a elogios, o investidor chega no mercado cheio de si. A carteira sobe 5% enquanto o Ibovespa sobe 7% e ele se acha infalível! O novo Buffet! 

Aí se enche de confiança e começa a alavancar, mexendo com coisas que nem entende corretamente. Se ganhar, é gênio. Se perder, a culpa é do mercado financeiro que é um grande cassino. 

Não incorra nesse erro! 

Pense sempre no risco. 

No futuro a IA irá elogiar seu planejamento financeiro. E com razão!!