Recomendação Cultural
Somos da opinião de que cultura é fundamental para o desenvolvimento do ser humano. E isso acaba fazendo de você um investidor melhor, tenha o assunto a ver com finanças ou não. Assim sendo, gostaríamos de oferecer uma indicação quinzenal da qual gostamos e achamos que seria útil.
Severance - (Ruptura) - Apple TV
O que aconteceria se separássemos totalmente o eu do trabalho com o eu particular?
É disso que a história trata. Excelente série!
Uma das mais badaladas no momento, e não é à toa.
Antes de mais nada, deixe-me elogiar a tradução, simples e efetiva dessa vez. Não é uma tradução perfeita, mas possivelmente é o melhor que dava pra fazer. Parabéns!!
Eurico é chato mas também reconhece mérito e elogia de vez em quando!
Estrelada por Adam Scott, humorista mais conhecido até então por seu trabalho em “Parks and Recreation”, a série é bem tensa. Há muito pouco ou quase nada de comédia. Mas tá ok.
Ao menos não concorre ao Emmy na categoria comédia, como um certo urso que há por aí.
A história entra agora em sua 2ª e última temporada. Bem interessante. Muito criativo!
Bonequinho do Eurico aplaudindo de pé.
Crônicas de Mercado
Periodicamente procuraremos trazer textos (crônicas) para nossos assinantes com o objetivo de levar a uma reflexão mais profunda sobre o mundo dos investimentos, assemelhando-o a nossa vida cotidiana, afinal, investir sempre fará parte da nossa vida cotidiana. Denominamos esses textos como “Crônicas de mercado”, e cada um deles virá com um tema diferenciado.
A Barata na Banheira
Renato tinha pressa. Muita pressa. Pressa demais. Tanta pressa que até o narrador foi fisgado. Precisou criar frases bem curtas. Bem rápidas. Para melhor ilustrar a pressa.
Tanta pressa não era à toa. Durante toda a vida o moço tinha alugado imóveis, e não seria dessa vez que ele iria comprar. “É contra a minha religião”, dizia ele.
Renato estava alugando um apartamento razoável num bairro de classe média de Teresina. No entanto, a dona do imóvel o pediu de volta, teoricamente para voltar a morar lá, e o pobre do rapaz teve 30 dias pra sair.
Pobre na verdade é força de expressão, e nem sei se é a melhor delas para usar aqui. Veja bem: pra início de conversa, o rapaz não tinha pouca bufunfa. Era muito disciplinado financeiramente, e estava juntando para ter mais segurança na aposentadoria.
Além disso, ele também não era digno de pena por conta desse problema. São ossos do ofício, normal de quem costuma alugar imóvel.
Ele sabia disso, mas dessa vez começava a ficar preocupado. O prazo ia passando e não aparecia nada do que jeito que ele queria.
“Ar condicionado é prioridade 1”, dizia ele.
Não sei se o leitor entende a dimensão disso!
Quantos mais aparelhos tivessem instalados, melhor.
Já banheiro, por exemplo, não precisava mais de que um: “Só preciso de um vaso para cag**” – perdoe o francês do nosso personagem.
Prático ao extremo, parecia ignorar que sua família era composta de 4 pessoas. Era vários gostos, cada um gostava de algo diferente.
Ar condicionado não entrava nesse raciocínio. Era inegociável!! Ele fazia questão de fazer coleção. Quanto mais, melhor.
Se a sala tivesse 40m2 e dois aparelhos de 30 mil BTUs instalados, era capaz dele não achar um desperdício.
Por outro lado, se o prédio proibisse o ar condicionado.... Ah! Mesmo que fosse um palácio, e mesmo que ele recebesse o aluguel ao invés de pagar, ainda assim não iria querer morar em tal crematório.
Esse trauma veio do último apartamento que ficou. Chamou seu técnico de confiança e este lhe disse que não daria pra colocar aparelho na sua sala, a menos que se quebrasse o imóvel todo.
Por falta de espaço para pôr os tubos de cobre, Renato teve que intubar uma sala funcionando como sauna durante alguns anos.
O prazo estava apertando. Nosso herói visitava quase 1 imóvel por dia, mas nenhum deles atendia aos seus anseios e aos da esposa ao mesmo tempo.
Renato pensava em aluguéis o dia inteiro! Pensava em imóveis antes de dormir, pensava em imóveis antes de acordar – provavelmente ele até visitava alguns imóveis durante a noite, desdobrado de seu corpo.
Finalmente, apareceu o convite para conhecer um imóvel num bairro de casas. As fotos empolgaram!
Era uma casa plana, portanto a esposa não poderia reclamar das dores no joelho ao subir escadas.
Tinha ar condicionado em todos os cômodos! Como qualquer apartamento em Teresina deveria ser – ao menos segundo Renato.
Uma piscininha, banheira de hidromassagem e churrasqueira.
“Nada mau!”, pensou o rapaz.
Foram ver a fatídica casa.
Logo ao entrar, ele já foi conferir os aparelhos de ar condicionado, pra ver se estavam todos ali. Tal qual um dirigente na floresta, contando os escoteiros com muito cuidado para não deixar ninguém sozinho na mata ao sabor do humor dos ursos.
Por um momento, Renato achou que a espera havia terminado. Apenas por um momento. Quando ele olhou para a banheira de hidromassagem, no quarto principal, havia uma barata confortavelmente colocada perto do ralo.
À primeira vista, ele não tinha certeza se a barata estava viva ou morta. Ele preferiu continuar com essa dúvida. Investigar de perto e fazer uma respiração boca a boca caso fosse preciso estava fora de cogitação!!
Renato gelou por dentro. Ficou quase paralisado. Não que ele tivesse medo de baratas, muito pelo contrário.
Mais novo, nem sempre ele conseguia impressionar as mulheres exalando masculinidade. Assim sendo, sempre que aparecia uma barata era sua hora de brilhar. Ele levantava, decidido, pegava um papel higiênico em uma mão, um chinelo na outra e ai da barata que não resolvesse cooperar a partir desse ponto!!
Ele ficou paralisado porque sabia que isso seria decisivo para a escolha do imóvel. Sua mulher, assim que visse a cena, iria vetar por certo essa casa!!
Não havia muito o que fazer. Ele até chegou a pensar se era hora de procurar um papel higiênico, mas não ia dar tempo.
A esposa entrou no quarto. Dito e feito! Arregalou o olho e puxou muito ar pelo nariz, expandindo os pulmões.
Renato acatou a vontade da esposa. Por óbvio. Mas ficou reclamando durante todo o caminho de volta. Não foi um caminho de volta tão curto. Acompanhe um enxerto do monólogo:
“Pô, ainda se tivesse cocô de rato? Aí sim!! Cocô de rato pode provocar leptospirose, febre tifóide e um monte de outro troços! Aí sim! Imagina só, o rato já tá fixando residência lá. Aí a gente chega. Tá cheio de ratinho pequenininho. Não dá pra mandar embora! O ratinho sai do útero todo lesado, fica 21 dias tomando leite... Não dá pra despejar o pobre coitado!
A família dos ratos também vai querer um tempo pra sair do imóvel, e não sei se tá fácil pra rato arranjar algo tão rápido... Não tá fácil pra gente... imagina pra rato?
Mas não! Não tinha rato! Nenhum projeto de Mickey Mouse no recinto. Só uma barata idosa ali na banheira, que muito provavelmente morreu até por idade. Tranquilo!! Lavou, tá novo!”
A esposa de Renato acabou vetando o imóvel por conta de um detalhe superdimensionado. A casa atendia aos dois, mas a barata acabou ganhando importância desproporcional por causa da emoção do momento.
No mercado financeiro isso é muito comum. Muitas noticias são supervalorizadas e decisões ruins tomadas por conta disso.
Muitas vezes é só um ruído qualquer. Mas, como despertou emoção fortes, você pode acabar fazendo besteira no mercado. Ou até mesmo abandonando a B3 por completo, no caso de pessoas mais inexperientes.
Não deixe que uma emoção como a da barata te impeça de comprar ações baratas!
