Eu sei, eu sei... Prometi que se o Botafogo fosse campeão eu ia parar de acompanhar o futebol. Não cumpri. Fui moleque, como diz a gíria da moda.
Bem verdade que não foi uma daquelas promessas raiz, em que eu me comunico com um ser maior do que eu. Nada disso. Era mais uma argumentação com o espelho. Um solilóquio, se me permitem.
Logicamente falando, fazia muito sentido aproveitar o título do Botafogo e parar de perder o meu tempo com os homenzinhos uniformizados correndo atrás da bola. Na prática, porém, a emoção desrespeitou a lógica.
Isso num 1º momento, é claro. No 2º momento o ser humano começa a racionalizar o porquê do comportamento que só é explicado por emoção.
O Eurico começa a falar pra si mesmo: “Bom, faz muito mais sentido acompanhar um time campeão do que um time na 2ª divisão.”
Os argumentos não param de vir, visto que nosso amigo é criativo: “Também teve a contratação do Ancelotti pela seleção, que me anima com futebol de forma geral”.
Enfim... Antes que o meu pensamento milagrosamente vá para um universo paralelo, como de costume, vamos voltar para o Botafogo. Estrela solitária. Campeão desde 1907. Era de 1910, mas depois de um tempão descobriram que o hino estava errado e resolveram mudar. Parece piada, mas não é. Coloque um só compositor pra criar 11 hinos de diferentes equipes cariocas e veja a mágica acontecer. A mágica, no caso, é uma repetição de temáticas e datas erradas a ponto de reprovar um estudante de história.
Pois então. Eis que o Botafogo começa a temporada de 2025 campeão dos 2 torneios mais importantes da América. O dono do clube é John Textor, um norte americano genial, porém fanfarrão e um pouco mais seguro de si do que recomenda a prudência.
Textor perdeu seu treinador campeão. Não vou entrar nos detalhes. Direi apenas que não parece ter sido culpa do gringo. Era preciso, portanto, outro moço pra ficar ali na beira do campo; de preferência um ex-jogador pra dar umas belas dominadas nas bolas que respingam ali na beira do campo - porque a imprensa gosta muito disso.
Ao contrário de seus adversários, o Botafogo só contratou treinador no final de fevereiro, ficando 55 dias sem técnico. Não foi um técnico de referência; pelo contrário. Quando demitido do Bahia, Renato Paiva era muito menos referenciado do que sua própria mãe pela torcida baiana.
Isso foi em 2023, onde o profissional conquistou apenas 49% de aproveitamento. Péssimo, considerando que o Bahia tem uns joguinhos mais café com leite no campeonato baiano e na Copa do Nordeste.
O treinador chega ao time campeão com um discurso de time ofensivo, mas joga todos os jogos fora de casa retraído como uma tartaruga assustada. Perde 7 de 9 jogos fora de casa. Empata os outros 2. Não faz gol em 7 ou 8 deles.
Paiva inverte seus pontas como se o resultado fosse o mesmo que vestir a meia do pé direito no pé esquerdo. Na realidade, o efeito é semelhante a calçar o sapato esquerdo no pé direito.
Mas o pior mesmo é o PK. PK, ou Patrick de Paula, é um cabeça de área que foi comprado do Palmeiras a peso de ouro. Em 3 anos, não fez nenhuma partida digna de palmas no Botafogo. Para deixar a equipe mais ofensiva (?), inventou de escalar o jogador pra atuar como meia, de costas para o jogo. O resultado foi bisonho. O atleta não via a bola. Mais parecia um moleque de 13 anos jogando contra adultos.
Essa escalação foi repetida 6 ou 7 vezes, o que contribuiu muito para a sequência negativa. Além disso o treinador não faz controle de carga. Os jogadores jogam alucinadamente até machucarem.
Um conhecido chegou a dizer “O treinador é burro. Burro de carga. Logo ele não vê necessidade de fazer controle de carga”. Achei desrespeitoso. Tanto que não vou mencionar isso aqui na crônica.
Vamos agora para dentro do Whatsapp, carinhosamente chamado de Zap Zap pelos brasileiros. Grupos temáticos de times de futebol são muito comuns por ali.
O brasileiro médio entende de futebol. Boa parte já jogou pelada quando criança e adolescente. Horas desperdiçadas assistindo às piores partidas. Muitas vezes viajando pra assistir jogos. Até videogame de futebol a galera já jogou.
Vamos estabelecer aqui que esse pessoal entende de futebol? Ok, nem todo mundo compreende marcação alta, compactação em blocos, sistemas de jogo... Mas o basicão eles sabem.
Dentro dos grupos de discussão, o pessoal troca ideia, reclama do time quando as coisas não dão certo e comemora muito quando ganha. Até aí tudo bem. Faz sentido. O que não faz sentido pra mim é o otimismo tóxico que quase todos apresentam. Qualquer vitória apaga qualquer atuação ruim.
O otimismo é desenfreado e desconectado com a realidade. Vou dar exemplos: antes de sair a escalação, eu digo: “putz, vamos de PK na criação de novo”. Quase todos discordam: “nada”, “tu é muito pessimista” “hoje ele fica no banco”. É claro que ele inicia jogando, pois o treinador repete o que já tinha sido feito nas últimas 5 vezes. Outro exemplo: depois de perder 3 jogos seguidos fora de casa, eu disse: “putz, hoje vai ser 1x0 pros caras de novo”. “Nada!” “Deixa de ser pessimista” “hoje é vitória fácil” É óbvio que o time perde de 1x0 de novo.
Isso se dá indefinidamente. Eu realista e a galera toda iludida e feliz. Lembrei até de uma figurinha de zap que se aplica aqui: “Iludido é pior do que doido”.
Voltemos ao nosso problema. Essas pessoas estão errando suas previsões, uma atrás da outra. Mas isso se deve ao quê? Ignorância ou emoção? Seria o famoso “me engana que eu gosto”?
Minha teoria é justamente essa. Quando a emoção se faz presente de maneira muito forte, a razão se esconde cada vez mais – se esconde com força, como o time do Paiva jogando nos domínios de qualquer adversário.
Nos relacionamentos, também não é incomum investir num namoro e não perceber várias características nocivas de sua cara-metade; a emoção fala mais alto!!
No mercado financeiro acontece muito isso. As pessoas se apaixonam pelos papeis. Fulano abre uma posição em ABCD3, ganha 10% em 2 semanas e pronto: já está perdidamente apaixonado pelo ativo.
Já está escrevendo o nome do papel em seus cadernos com um coraçãozinho em volta, como as pré-adolescentes fazem.
Tem gente que só não casa com o papel porque a legislação não permite.
Aí já viu... Quando o racional é perdido, você fica ao sabor dos ventos.
Vira cassino. Jogo de azar.
Ao final, o resultado não poderia ser outro: o relacionamento com o ativo termina em divórcio - e com perdas patrimoniais consideráveis.
