O conto do vigário (fala do Luis Barsi sobre FIIs)

A última semana foi marcada por uma entrevista em que o megainvestidor brasileiro, Luiz Barsi Filho, concedeu ao Valor Econômico e disse que os fundos imobiliários seriam o “conto do vigário”.

Por Gabriel Ferreira

13/05/2022 13:30


O conto do vigário (fala do Luis Barsi sobre FIIs)

Fonte: Reprodução/YouTube




Além disso, cita sobre os fundos imobiliários pertencerem à indústria dos fundos, a qual visa as taxas de administradores e gestores, enriquecendo apenas esses. Gravei um vídeo para o Youtube sobre o tema e está disponível no LINK.

 

Para quem prefere um texto escrito, faço uma breve consideração sobre o tema.

 

Os fundos de investimentos imobiliários permitiram profissionalizar e tornar mais eficiente o investimento imobiliário no país, nos dizeres do próprio projeto de lei que criou “serão instrumento de incremento para o setor da construção civil, de relevante importância na economia nacional” e assim foi.

 

Dizer que o instrumento é um “conto do vigário” é dizer que ele é feito por vigaristas, exatamente como ocorre no conto do século XVIII, sobre um golpe aplicado por um vigário, remetendo a uma fraude. A fala ignora tudo que os fundos de investimentos imobiliários representam para a economia nacional e o PIB do país e faz uma defesa apaixonada das ações.

 

Os resultados apresentados pelos fundos imobiliários, ao longo de sua história, também demonstram que não são instrumentos com um viés de apenas para enriquecer Gestores, tendo se consolidado como um importante investimento gerador de fluxo de caixa e capaz de proporcionar uma tranquilidade na aposentadoria do investidor, uma vez que no Brasil as empresas de capital aberto ainda não possuem uma cultura de pagamento recorrente de dividendos, como observamos nos EUA.

 

A fala é apenas uma defesa apaixonada das ações, por alguém que só investe em ações, que tem bilhões na conta e que a filha tem um serviço de Research voltado para ações, na velha discussão de o que é melhor, FIIs ou ações, assunto que é mais bem trabalhado no meu vídeo do Youtube e uma discussão que não acrescenta em nada ao investidor.

 

A fala desproporcional do megainvestidor Luiz Barsi Filho ao comentar “conto do vigário” faz passar despercebido uma crítica importante sobre recomendações apaixonadas por uma classe de ativos, o que sempre precisamos ressaltar. Qualquer defesa apaixonada, de qualquer classe de ativo, sejam FIIs, sejam ações, ou qualquer investimento, impede o investidor observar os pontos positivos e negativos do investimento, o que vai lhe possibilitar avaliar quais ativos específicos são capazes de superar os desafios e gerar bons resultados, bem como quais investimentos são indicados para a sua fase como investidor.

 

E sim, os fundos imobiliários pertencem a classe dos fundos, nos quais sim, podemos muitas vezes ter uma indústria de taxas atuando, afinal, os profissionais envolvidos também querem obter seus lucros, como os Diretores das empresas também o querem. Ter essa clara compreensão nos permite identificar que fará parte dessa classe de ativos haver taxas de administração, gestão, performance, emissões, mas nem por isso precisa ser ruim. Mesmo com essas taxas, investir em imóveis por meio de FIIs ainda é mais eficiente e rentável do que investir em imóveis físicos. A partir do momento que eu tenho conhecimento de onde os FIIs estão inseridos, eu posso avaliar então qual Gestor está alinhado com o cotista e qual Gestor vai gerar valor ao longo de décadas para todos os envolvidos (cotistas, gestores, inquilinos etc.) e qual Gestor tem uma maior preocupação com o “seu bolso” e só depois com o do cotista.

 

Uma empresa não será diferente. Se não entendermos que a forma de remunerar os Diretores pode impactar o resultado da empresa, não saberemos avaliar adequadamente aquela empresa e podemos cair em situações como IRBR, em que a empresa acabou tendo uma administração de forma a gerar mais bônus para os Diretores e comprometeu o futuro dos acionistas, por sinal, empresa que o entrevistado investe.

 

E se você chegou neste ponto da leitura e está pensando “por isso não vou mais investir no Brasil”, tal situação também ocorre mundo a fora. O banco Wells Fargo também passou por situação semelhante em que o formato de remunerar seus Diretores estimulou uma atuação deles de forma a aumentar os seus bônus (como se fossem as taxas dos FIIs) e gerou prejuízo de longo prazo aos cotistas. E se você acha que é fácil identificar ou antecipar esses movimentos, é importante destacar que um dos grandes acionistas do Wells Fargo era ninguém mais e ninguém menos que Warren Buffett. Se quer conhecer mais este caso, você consegue ver no episódio 1 da 2ª temporada da série “Na Rota do Dinheiro Sujo” da Netflix.

 

“Rodrigo, não quero mais investir, vou deixar tudo na poupança, achei muito complicado”. Esse pode ser o que você desejaria me falar agora, mas lembre-se que fazer isso vai lhe gerar mais prejuízo do que investir, vai fazer você perder patrimônio para a inflação ou não construir o seu futuro financeiro saudável.

 

O que você precisa é de análises racionais e não apaixonadas, como acabamos de ver nessa entrevista de Luiz Barsi Filho. Você precisa de profissionais independentes e que não defendam o seu produto como “o melhor”. Você precisa saber que o futuro é incerto e que todos os investimentos possuem defeitos e qualidades e, mesmo os melhores investidores, vão cometer erros, é por isso que você diversifica a sua carteira (diversifica, não pulveriza).

 

Assim, fuja das análises apaixonadas, busque sempre ser racional, estude e entenda os investimentos que você faz, não para se transformar em um profissional de mercado, mas de forma a lhe permitir a entender onde está aplicando o seu dinheiro, de forma a lhe permitir formar uma visão crítica que permita identificar bons profissionais para te auxiliar. E saiba, os erros farão parte da caminhada, por isso você diversifica, para que um erro não te tira da caminhada. 

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